terça-feira, 11 de janeiro de 2022

O maçom atento à insegurança e conflitos degenerativos da sociedade.


Esboroam-se, sob os camartelos das revoluções hodiernas, os edifícios da tradição ultramontana, cedendo lugar  às apressadas construções do desequilíbrio, sem memória ancestral, sem alicerce cultural.

Ruem, diante dos abalos da ciência tecnológica, o empirismo passadista e as obras da arbitrária dominação totalitária, substituídos pelo alucinar das novas maquinações de aventureiros desalmados, perseguindo suas ambições imediatistas a prejuízo da sociedade, do indivíduo.

A política desgovernada exibe os seus corifeus, que se fazem triunfadores de um dia, logo passando ao anonimato, repletos de gozos e valores perecíveis, a intoxicar-se nos vapores dos vícios e das perversões em que falecem os últimos ideais que ainda possuíam. 

Os direitos humanos decantados em toda parte sofrem o vilipêndio daqueles que os deveriam defender, em razão do desrespeito que apresentam diante das leis por eles mesmos elaboradas, em desprezo flagrante às Instituições que se comprometeram socorrer, por descrédito de si próprios

A anarquia substitui a ordem e as transformações sociais apressadas não  têm tempo de ser assimiladas, porque substituídas pelos modismos que se multiplicam em velocidade ciclópica.

Velhos dogmas, nascidos e cultivados no caldo  da ignorância,são  esquecidos e nascem as ideias liberais revolucionárias, que instigam o homem fraco  contra o  seu  irmão mais forte gerando ódios, quando deveriam amansar o lobo  ameaçador, a fim de que, pacificado, pudesse beber na mesma fonte com o cordeiro  sedento, que lhe receberia proteção dignificadora. 

As circunstâncias externas do inter-relacionamento das criaturas, fenômeno  consequente ao desequilíbrio do indivíduo, engendram no contexto hodierno a insegurança, que fomenta as crises.

Sucedem-se, desse modo, as crises de autoridade, de respeito, de honradez, de valores ético-morais, e a desumanização da criatura assoma nos painéis do  comportamento, insensibilizando-pelo amolentamento emocional ou exacerbação, na volúpia do prazer e da violência conduzidos pelas ambições desmedidas. 

As crises respondem pela desconfiança das pessoas, umas em relação às outras, pelo rearmamento belicoso de uns indivíduos contra os outros, pela agressividade automática e atrevida. 

A queda do respeito que todos se devem, respeito este sem castração nem temor, estimula a indisciplina que começa na educação  das gerações novas, relegadas a plano secundário, em que se cuidam de oferecer coisas, em mecanismos sórdidos de chantagem emocional, evitando-se dar amor, presença, companheirismo  e orientação saudável.

A crise de autoridade responde pela corrupção em todas as áreas, sob a cobertura daqueles que deveriam zelar pelos bens públicos e administrá-los em favor  da comunidade, pois que, para tal se candidataram aos postos de comando, sendo  remunerados pelos contribuintes para este fim. Como efeito, os maus exemplos favorecem a desonestidade, discreta e pública, dos membros esfacelados do  organismo social enfermo, preparando os bolsões de miséria econômica, moral, com todos os ingredientes para a rebelião  criminosa, o assalto a mão armada, o apropriamento indébito  dos bens alheios, a insegurança geral. O que se nega em compromisso de direito, é tomado em mancomunação da força com o ódio. 

Mesmo os valores espirituais do homem se apresentam em crise de pastores, e amigos, capazes de exercerem o ministério da fé religiosa com serenidade, sem separativismo, com amor, sem discórdia na grei, com fraternidade, sem disputas da primazia, sem estrelismo. 

Nas várias escolas de fé espocam a rebelião, as disputas lamentáveis, a maledicência ácida ou  o distanciamento formando quistos perigosos no corpo  comunitário. 

O homem apresenta-se doente, e a sociedade, que lhe é o corpo grupal, encontra-se desestruturada em padecimento total.

As crises gerais, que procedem da insegurança individual, são, por sua vez, responsáveis por mais altas e expressivas somas de desconforto, insatisfação, instabilidade emocional do homem, formando um círculo vicioso que se repete, sem aparente possibilidade de arrebentar as cadeias fortes que o constituem.

Vitimado por sucessivos choques desde o momento do parto, quando o ser  é expulso do claustro materno, onde se encontrava em segurança, este enfrenta, desequipado, inumeráveis desafios que não logra superar. Chegando a idade adulta, eilo receoso, desestruturado para enfrentar a maquinaria insensível dos dias contemporâneos, em que a eletrônica e a robótica são conduzidas, porém, avançam, tomando o controle da situação e, lentamente, reduzindo-o a observador das respostas e imposições digitadas, apertando ou desligando controles e submetendo  se aos resultados preestabelecidos, sem emoção, sem participação pessoal nos dados recolhidos. 

Noutras circunstâncias, ou  em estado fetal, experimenta os choques geradores de insegurança, no comportamento da gestante revoltada diante da maternidade não desejada e até mesmo odiada. O jogo de reações nervosas, as vibrações deletérias da revolta contra o ser  em formação, atingem-lhe os delicados mecanismos psíquicos, desarmonizando os núcleos geradores do futuro equilíbrio, sob as chuvas de raios destruidores, que os afetam irreversivelmente. 

O que o amor poderia realizar posteriormente e a educação lograr em forma de psicoterapia, ficam, à margem, sob os cuidados de pessoas remuneradas, sem envolvimento emocional ou  interesse pessoal, produzindo marcas profundas de abandono e solidão, que ressurgirão como traumas danosos no desenvolvimento da personalidade. 

A par dos fatores sóciomesológicos, outras razões são preponderantes na área do comportamento inseguro, que são aquelas que procedem das reencarnações anteriores, malogradas ou  assinaladas pelos golpes violentos que foram aplicados pelo Espírito em desconcerto moral, ou  que os padeceu  nas rudes pugnas existenciais.

Assinalando com rigor a manifestação da afetividade tranquila ou  desconfiada, aquelas impressões são arquivadas no inconsciente profundo, graças aos mecanismos sutis do perispírito. O homem é um ser  inacabado, que a atual existência deverá colaborar para o aperfeiçoamento a que se encontra destinado. Faltando-lhe os recursos favoráveis ao ajustamento, torna-se uma peça mal colocada ou  inadaptada na complexidade da vida social, somando à sua a insegurança dos outros membros, assim favorecendo as crises individuais e coletivas.

Por desinformação ou  fruto de um contexto imediatista consumista, elaborou-se a tese de que a segurança pessoal é o resultado do ter, que se manifesta pelo  poder e recebe a resposta na forma de parecer. Todos os mecanismos responsáveis pelo homem e sua sobrevivência se estribam nessas propostas falsas, formando uma sociedade de forma, sem profundidade, de apresentação, sem estrutura psicológica nem equilíbrio moral. 

Trabalhando somente no exterior, relega-se, a plano secundário ou  a nenhum, o sentido ético do ser humano, da sua realidade intrínseca, das suas possibilidades futuras, jacentes nele mesmo

O homem deve ser educado para conviver consigo próprio, com a sua solidão, com os seus momentâneos limites e ansiedades, administrando-os em proveito  pessoal, de modo a poder compartir emoções e reparti-las, distribuir  conquistas, ceder espaços, quando convidado à participação em outras vidas, ou  pessoas outras vierem envolver-se na sua área emocional. 

Desacostumado à convivência psíquica consciente com os seus problemas, mascara-se com as fantasias da aparência e da posse, fracassando nos momentos em que se deve enfrentar, refletido em outrem que o observa com os mesmos conflitos e inseguranças. As uniões fraternais então se desarticulam, as afetivas se convertem em guerras surdas, o matrimônio naufraga, o  relacionamento social sucumbe disfarçado nos encontros da balbúrdia, da extravagância, dos exageros alcoólicos, tóxicos, orgíacos, em mecanismos de fuga da realidade de cada um. 

A educação, a psicoterapia, a metodologia da convivência humana devem estruturar-se em uma consciência de ser, antes de ter; de ser, ao invés de poder, de ser, embora sem a preocupação de parecer.

Os valores externos são incapazes de resolver as crises internas, aliás, não poucas vezes, desencadeando-as.

O que o  homem é, suas realizações íntimas, sua capacidade de compreender-se, às pessoas e ao mundo, sua riqueza emocional e idealística, estruturam-no para os embates, que fazem parte do seu modus vivendi e operandi, neste processo incessante de crescimento e cristificação.

A coragem para os enfrentamentos, sem violência ou  recuoscapacita-o  para os logros transformadores do ambiente social, que deslocará para o passado a ocorrência das crises de comportamento, iniciando-se a era de construção ideal e de reconstrução ética, jamais vivida antes na sua legitimidade. 

Os conceitos do poder e da força estão presentes na sistemática governança dos povos. Sempre os militares governaram mais do que os filosóficos, e o poder  sempre esteve por mais tempo nas mãos dos violentos do que na sabedoria dos pacíficos, gerando as guerras exteriores, porque os seus apaniguados viviam em constantes guerras íntimas, inseguros, aguardando a traição dos fracos que, bajuladores, os rodeavam, e a audácia dos mais fortes, que lhes ambicionavam o  poderio, terminando, quase todos, vítimas das suas nefastas urdiduras. 

A segurança íntima conseguida mediante o autodescobrimento, a humanização e a finalidade nobre que se deve imprimir à vida são fatores decisivos para a eliminação das crises, porquanto, afinal, a descrença que campeia e o  desconcerto que se generaliza são defluentes do homem moderno que se encontra em crise momentânea, vitimado pela insegurança que o aturde.

A crise de credibilidade, de confiança, de amor instaura o estado conflitivo da personalidade que perde o roteiro, incapaz de definir o que é correto ou  não, qual a forma de comportamento mais compatível com a época e, ao mesmo tempo, favorável ao seu  bem-estar, anquilosando pessoas refratárias ao progresso nas idéiassuperadas ou  produzindo  grupos rebeldes fadados à destruição, que se entregam à desordem, à contracultura, buscando sempre chocar, agredir. 

Os grupos opostos se afastam, se armam e se agridem. O homem ainda não aprendeu  a ser solidário quando não concorda, preferindo ser solitário, ser opositor.

Certamente, a renovação é lei da vida. A poda faculta o ressurgimento do vegetal. O fogo purifica os metais, permitindo-lhes a moldagem. A argila submete  se ao  oleiro. A vida social é resultado das alterações sofridas pelo homem, seu  elemento essencial. 

É necessário, portanto, que se dê a transformação, a evolução dos conceitos, o  engrandecimento dos valores. Para tal fim, às vezes, é preciso que ocorra a demolição das estratificações, do arcaico, do ultrapassado. Lamentavelmente, porém, nesta ação demolidora, a revolta contra o passado, pretendendo apagar os vestígios do antigo, vai-lhe até as raízes, buscando extirpá-las.

O homem e a sociedade, sem raízes não sobrevivem. No começo, o paganismo greco-romano era uma bela doutrina, rica de símbolos e significados, caracterizando o processo psicológico da evolução histórica do homem. O abuso, mais tarde, fê-lo degenerar, e a Doutrina cristã se apresentou na forma de um corretivo eficaz, oportuno. A dosagem exagerada, porém, terminou por  causar danos inesperados, no largo período da noite medieval, da qual algumas religiões contemporâneas ainda padecem os efeitos negativos.

O mesmo vem acontecendo com a sociedade que, para livrar-se das teias da hipocrisia, da hediondez, dos preconceitos, da vilania, da prepotência, elaborou os códigos da liberdade, da igualdade, da fraternidade, em lutas sangrentas, ainda não  considerados além das formulações teóricas e referências bombásticas, sem repercussão real no organismo das comunidades humanas em sofrimento.

As recentes reações culturais contra a autenticidade da conduta têm produzido mais males que resultados positivos.

Em nome da evolução, sucedem-se as revoluções destrutivas que não oferecem nada capaz de preencher os espaços vazios que causam.

A insatisfação do indivíduo fustiga e perturba o grupo no qual ele se localiza, sendo expulso pela reação geral ou  tornando-se um câncer em processo  metastático. Facilmente o pessimista e o colérico contaminam os desalentos, passando-lhes o morbo do desânimo ou o fogo da irritação, a prejuízo geral. 

Armam-se querelas desnecessárias, alterase a filosofia dos partidos existentes, que se transferem para a agressividade, as acusações descabidas, sem trabalho à vista para a retificação dos erros, a reabilitação moral dos caídos, para o  bem-estar coletivo.

Cada pequeno grupo dentro do grupo maior, sem consenso, busca atrapalhar a ação do adversário, mesmo quando benéfica, porque deseja demonstrar  lhe a falência, movido pelos interesses personalistas, em detrimento do processo de estabilidade e crescimento de todos.

O personalismo se agiganta, as paixões servis se revelam, o idealismo cede lugar à vileza moral.

A predominância do egoísmo em a natureza humana faz-se responsável pelo caos em volta, no qual os conflitos degenerativos da sociedade campeiam. 

Surgem as plataformas frágeis em favor do grupo desde que sob o comando  e a alternativa única do ególatra, que alicia outros semelhantes, que se lhe acercam, igualmente ansiosos por sucessos que não merecem, mas que pleiteiam. Inseguros, incapazes de competir a céu  aberto, honestamente, aguardam na furna da própria pequenez, por motivos verdadeiros ou  não, para incendiarem o campo  de ação  alheia, longe dos objetivos nobres, porém reflexos dos seus estados íntimos conflituosos.

Não se tornam adversários leais, porque a inveja, antes, os fizera inimigos ocultos que aguardavam ensejo para desvelarem-se.

Em face das distonias pessoais de que são portadores, decantam a necessidade do  progresso da sociedade e bloqueiam-no com a astúcia, a desarticulação de programas eficientes, antes de testados, atacando-os vilmente e aos seus portadores, a quem ferem pessoalmente, pela total impossibilidade de permanecerem no campo  ideológico, já que não possuem idealismo.

Estimulam a dissensão, porque os seus conflitos não os auxiliam a cooperar, entretanto, os motivam a competir. Não podem trabalhar a favor, porque os seus estímulos somente funcionam quando se opõem. 

Em razão da insegurança pessoal desconfiam dos sentimentos alheios e provocam distúrbios que se originam em suspeitas injustificáveis, a soldo do prazer  mórbido que os assinala.

O conflito íntimo é matriz cancerígena no organismo humano em constante ameaça ao grupo social. 

Cabe ao homem em conflito revestir-se de coragem, resolvendo-se pelo  trabalho de identificação das possibilidades que dispõe, ora soterradas nos porões da personalidade assustada. Sentindo-se incapaz de enfrentar-se, a busca de alguém capacitado a apontar-lhe o rumo e ajuda-lo a percorrê-lo é tão urgente quão indispensável. Inúmeras terapias estão ao seu  alcance, entre os técnicos da área especializada, assim como as da Psicologia Transpessoal apresentando-lhe a intercorrência de fatores paranormais e da Psicologia Espírita, aclarando-o com as luzes defluentes dos fenômenos obsessivos geradores dos problemas degenerativos no indivíduo e na sociedade.

O conglomerado social, por sua vez, tem o dever de auxiliar o homem em conflito, de ajuda-lo a administrar as suas fobias, ansiedades, traumas, e mesmo o de socorrê-lo nas expressões avançadas quando padecendo psicopatologias diversas, em ética de sobrevivência do grupo, pois que, do contrário, através do alijamento de cada membro, quando vier a ocorrência se desarticulará o mecanismo de sustentação  da grei. 

A sociedade deve responder pelos elementos que a constituem, pelos conflitos que produz, assim como assume as glórias e conquistas dos felizardos que a compõem.

Os conflitos degenerativos da sociedade tendem a desaparecer, especialmente quando o homem, em se encontrando consigo mesmo, harmonize o  seu  cosmo  individual (micro), colaborando para o equilíbrio do universo social (macro), no qual se movimenta.

 

Fonte: 

FRANCO, DIVALDO. O Homem Integral: série psicológicaJoanna de Angelis vol 2. 21.edSalvador: editora Leal, 2015.

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