terça-feira, 8 de novembro de 2016

Maçons e benfeitoria anônima.

Quando leio alguns jornais de procedência maçônica, verifico com tristeza que alguns maçons ainda insistem em desempenhar o vício da vaidade, divulgando seus “feitos caritativos”.

Esses irmãos se esquecem de que a caridade acompanhada da ostentação é, aos olhos de Deus, como folhas secas do caminho; o óbulo piedoso, esse vale mais do que todos os tesouros de um califa.

Caridade deve ser, sempre que possível, anônima, caso contrário, será apenas uma forma de vaidade, de projeção do próprio ego ou de nossa imagem pessoal. Esse caso exclui obviamente projetos em que seja necessária a divulgação do nome dos envolvidos, ou quando alguém precisa se responsabilizar pelo trabalho empreendido. Mas tirando algumas exceções, é preciso saber que, aqueles que ficam divulgando a caridade podem estar mais preocupados com uma propaganda em cima do seu próprio nome apenas para impressionar os outros, sem estarem tão preocupados com seus semelhantes.

Eis alguns exemplos de caridade despretensiosa, o fato seguinte foi extraído da Revista espírita do ano de 1863, relatado pelo jornal diário francês La Patrie do mês de abril de 1863, que poderiam muito bem terem sido protagonizados por um maçom disciplinado e consciente da importância em desbastar a pedra bruta dentro de si, eis o fato:

“O proprietário de uma casa na Rua du Cherche-Midi tinha permitido anteontem que o inquilino se mudasse sem saldar a conta, mediante reconhecimento da dívida. Mas enquanto carregavam os móveis o proprietário mudou de ideia e quis ser pago antes da retirada da mobília. O locatário se desesperava, sua esposa chorava e dois filhos em tenra idade imitavam a mãe. Um cavalheiro, condecorado com a Legião de Honra, passava no momento por aquela rua. Parou. Tocado por esse espetáculo desolador, aproximou-se do infeliz devedor e, tendo-se informado da quantia devida pelo aluguel, entregou-lhe duas cédulas e desapareceu, acompanhado pelas bênçãos daquela família, que salvava do desespero.

“No mês de julho, o jornal L’Opinion du Midi, de Nîmes, relatava outro caso do mesmo gênero: “Acaba de passar-se um fato tão estranho, pelo mistério com que se realizou, quão tocante por seu objetivo e pela delicadeza do procedimento do seu autor. “Há três dias anunciamos que um violento incêndio tinha consumido quase completamente a loja e as oficinas do Sr. Marteau, marceneiro em Nîmes.

O seguro que fizera era infinitamente inferior ao valor das mercadorias destruídas. “Soubemos hoje que três carretas, contendo madeira de diversas qualidades e instrumentos de trabalho, foram levadas à frente da casa do Sr. Marteau e descarregadas em suas oficinas, semidevoradas pelas chamas. “O responsável pela condução das carretas respondeu às interpelações de que era objeto, alegando a ignorância em que se achava, relativamente ao nome do doador, cuja vontade executava.

Sustentou não conhecer a pessoa que o havia comissionado para transportar a madeira e as ferramentas à casa do Sr. Marteau, e nada saber fora dessa comissão. Retirou-se após ter descarregado as três viaturas. “A alegria e a felicidade substituíram no Sr. Marteau o abatimento de que era impossível tirá-lo desde o dia do incêndio. “Que o generoso desconhecido, que tão nobremente veio em socorro de um infortúnio que, sem ele, talvez tivesse sido irreparável, receba aqui os agradecimentos e as bênçãos de uma família que, desde hoje, lhe deve as mais doces consolações e, talvez, logo venha a lhe dever a prosperidade.”

O coração se tranquiliza quando lemos fatos semelhantes que, de vez em quando, vêm fazer a contrapartida dos relatos de crimes e torpezas que os jornais estampam em suas colunas. Fatos como os acima relatados provam que a virtude não está inteiramente banida da Terra, como pensam certos pessimistas. Sem dúvida nela o mal ainda domina, mas quando se procura na sombra, percebe-se que, sob a erva daninha, há mais violetas, isto é, maior número de almas boas do que se pensa.

Se elas surgem a intervalos tão espaçados, é que a verdadeira virtude não se põe em evidência, porque é humilde; contenta-se com os prazeres do coração e a aprovação da consciência, ao passo que o vício se manifesta afrontosamente, em plena luz; faz barulho, porque é orgulhoso. O orgulho e a humildade são os dois pólos do coração humano: um atrai todo o bem; o outro, todo o mal; um tem calma; o outro, tempestade; a consciência é a bússola que indica a rota conducente a cada um deles.

O benfeitor anônimo, do mesmo modo que o que não espera a morte para dar aos que nada têm, é, incontestavelmente, o tipo do homem de bem por excelência; é a personificação da virtude modesta, aquela que não busca os aplausos dos homens. Fazer o bem sem ostentação é um sinal incontestável de grande superioridade moral, porque é preciso uma fé viva em Deus e no futuro, um alheamento da vida presente e uma identificação com a vida futura para esperar a aprovação de Deus, bem como renunciar à satisfação proporcionada pelo testemunho atual dos homens.

O favorecido abençoa de coração a mão generosa e desconhecida que o socorreu, e essa bênção sobe ao céu muito mais que os aplausos da multidão. Aquele que leva em maior conta o sufrágio dos homens do que a aprovação de Deus mostra ter mais fé nos homens do que em Deus e que a vida presente tem mais valor que a vida futura. Se disser o contrário, age como se não acreditasse no que diz.

Entre estes, quantos não fazem um favor senão com a esperança de que o favorecido venha proclamar o benefício do alto dos telhados! que em plena luz dão uma grande soma, mas na obscuridade não dariam uma simples moeda! Eis por que disse Jesus: “Os que fazem o bem com ostentação já receberam a sua recompensa.” Com efeito, àquele que busca a sua glorificação na Terra, Deus nada deve; só lhe resta receber o preço de seu orgulho.

Que relação tem isto com o Espiritismo e a maçonaria? talvez perguntem certos críticos; Tem relação à medida que o Espiritismo e a Ordem maçônica, dando fé inabalável na bondade do Grande Arquiteto do Universo e na vida futura, graças a eles os homens que fizerem o bem pelo bem serão menos raros do que o são hoje; os jornais terão menos crimes e suicídios a registrar e mais atos da natureza dos que deram lugar a estas reflexões.

Fontes :


http://www.febnet.org.br/ba/file/Downlivros/revistaespirita/Revista1863.pdf

terça-feira, 19 de abril de 2016

A sobriedade e os aprendizes maçons.

  Quando um aprendiz maçom assiste suas primeiras reuniões em Loja, deve observar que há irmãos dispostos em progredir espiritualmente. São estes obreiros a quem ele deve se espelhar no propósito de adquirir um comportamento comedido. A sobriedade é uma virtude difícil de ser praticada, por causa disso, observa-se muitos irmãos que estagnaram no primeiro degrau da escada de Jacó. Se tivessem fé na mudança interior, a vontade de mudar seria superior do que a “carne fraca”. Eis um texto do livro "cirurgia moral", informando mais sobre o assunto do comportamento sóbrio que devemos possuir no íntimo:

SÊ SÓBRIO

  A sobriedade é caminho de todos os iniciados. É uma arte de viver, mas viver bem consigo mesmo e, certamente, em paz com todas as criaturas. Sê comedido em tudo o que fazes, para que os teus passos sejam glorificados. Os extremos são ambientes perigosos em todas as circunstâncias. Ao escutares alguém que te endereça uma frase de que, por vezes, não gostas, lembra-te da moderação na resposta, se o silêncio não for a melhor atitude. Vê como respondes, para que não cries embaraços para os próprios pés. 
  E quando for necessário falar a alguém, mesmo que seja com energia, não digas nada sem pensar primeiro o que vais falar. As palavras enérgicas podem ser temperadas, de modo a não ferir, mas somente despertar o companheiro para o dever. Sê sóbrio nas atitudes, para que o orgulho e a vaidade não interfiram quando falares com pessoas com quem não afines bastante. Quando lidas com quem amas, tudo coopera para que a educação, a disciplina e o bom senso se infiltrem nas tuas conversações, e, para tanto, o prazer de agradar é outro ponto favorável no aprimoramento da tua conduta. 
  No entanto, é razoável prevenir o coração para tratares bem, igualmente, o teu inimigo, porquanto amar a quem te ama, nada acrescenta de virtude na pauta da tua vida. São apenas trocas de boas maneiras. Procura viver dentro da simplicidade, pois ela marca a tua conduta de Espírito sério, que deseja fazer da vida uma linha reta, onde seja aproveitado o exemplo do equilíbrio. O homem comedido alcança mais depressa a tranquilidade e garante nos lábios um sorriso permanente, como prêmio de lutador. 
  Se já lutaste muito, pensando em vitórias efêmeras, se ainda não encontraste o que procuras há muito tempo nos campos do mundo, não esmoreças. Existe, por excelência, uma luta maior e de melhor proveito. Larga as armas que só te deram aborrecimentos, refaze as energias gastas em demandas inconvenientes e entra para dentro de ti mesmo, com todas as forças que a vida te deu, passando a travar a batalha contra os instintos inferiores. Tu és o comandante de ti mesmo. 
  Luta para a aquisição da harmonia no reino de teu coração, que Deus te ajudará nesta investida e Jesus te mostrará o que deves fazer para alçar a bandeira da vitória no centro da tua consciência. Sê abstêmio nos momentos graves, porque esse modo de ser te induz para a amizade e não te deixa cair em novas tentações. Alimenta a fraternidade com todos os teus companheiros, sem esquecer os menos agraciados pela sorte física e moral, por serem todas criaturas filhas de Deus com os mesmos direitos e deveres na vida; e, de certa forma, precisamos de todos para conseguir o que não temos qualidade de gerar. 
  A educação nunca é excessiva nos moldes da atividade que iniciamos e a disciplina é necessária para que alcancemos a verdadeira paz interna. O ser feliz não é aquele que tem na parede inúmeros diplomas, mas o que tem no coração mais amor e maior sabedoria das coisas espirituais. Sê sóbrio em tudo o que fazes, que a luz achará lugar em teu peito, para sempre.


Bibliografia : CIRURGIA MORAL. Lancellin, psicografado por João Nunes Maia. Editora fonte Viva; 1983.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Boas maneiras na maçonaria.


  Muitos irmãos em Loja e certamente também, fora dela, tendem pensar que conquistando um assento de relevância, em outros termos, um cargo de poder efêmero, lhe trará destaque mundano. Alguns até acham que tendo uma posição de destaque, conseguirão respeito.  Para conseguir apreço sincero, é necessário ser um homem virtuoso. Uma das principais virtudes é a humildade. Vejamos no Livro da Lei, o que disse o espírito Emmanuel sobre o assunto, na passagem do apóstolo Lucas:

E assenta-te no último lugar.” – Jesus. (Lucas, 14:10.) 


  O Mestre, nesta passagem, proporciona inolvidável ensinamento de boas maneiras.

Certo, a sentença revela conteúdo altamente simbólico, relativamente ao banquete paternal da Bondade Divina; todavia, convém deslocarmos o conceito a fim de aplicá-lo igualmente ao mecanismo da vida comum.

  A recomendação do Salvador presta-se a todas as situações em que nos vejamos convocados a examinar algo de novo, junto aos semelhantes. Alguém que penetre uma casa ou participe de uma reunião pela primeira vez, timbrando demonstrar que tudo sabe ou que é superior ao ambiente em que se encontra, torna-se intolerável aos circunstantes.

 Ainda que se trate de agrupamento enganado em suas finalidades ou intenções, não é razoável que o homem esclarecido, aí ingressando pela vez primeira, se faça doutrinador austero e exigente, porquanto, para a tarefa de retificar ou reconduzir almas, é indispensável que o trabalhador fiel ao bem inicie o esforço, indo ao encontro dos corações pelos laços da fraternidade legítima. Somente assim, conseguirá alijar a imperfeição eficazmente, eliminando uma parcela de sombra, cada dia, através do serviço constante.

  Sabemos que Jesus foi o grande reformador do mundo, entretanto, corrigindo e amando, asseverava que viera ao caminho dos homens para cumprir a Lei.
Não assaltes os lugares de evidência por onde passares. E, quando te detiveres com os nossos irmãos em alguma parte, não os ofusques com a exposição do quanto já tenhas conquistado nos domínios do amor e da sabedoria. Se te encontras decidido a cooperar pelo bem dos outros, apaga-te, de algum modo, a fim de que o próximo te possa compreender. Impondo normas ou exibindo poder, nada conseguirás senão estabelecer mais fortes perturbações.


Bibliografia: Pão Nosso. Emmanuel - psicografado por Francisco Xavier. editora FEB. 2015.


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Julgamentos entre os maçons.

É comum, em reuniões maçônicas, termos uma tendência em fazer um julgamento precipitado de opiniões e procedimentos de irmãos interessados em alguma mudança para a Loja ou quando o obreiro quer externar seu conhecimento. Será que é correto criticar um irmão sem conhecer suas reais intenções?

De acordo com o Evangelho segundo o espiritismo, A censura de conduta alheia pode ter dois motivos: reprimir o mal, ou desacreditar a pessoa cujos atos criticamos. Este último motivo jamais tem escusa, pois decorre da maledicência e da maldade. O primeiro pode ser louvável, e torna-se mesmo um dever em certos casos, pois dele pode resultar um bem, e porque sem ele o mal jamais será reprimido na sociedade. Aliás, não deve o homem ajudar o progresso dos seus semelhantes? Não se deve, pois, tomar no sentido absoluto este princípio: “Não julgueis para não serdes julgados”, porque a letra mata e o espírito vivifica.

Há um texto ditado por Néio Lúcio, no livro Jesus no Lar, psicografado por Chico Xavier, que fala de um juiz que descobriu pela dor que, a única autoridade legítima, aos olhos de Deus, é a que se apóia no bom exemplo. Eis a estória:

Como houvesse o Senhor recomendado nas instruções do dia muita cautela no julgar, a conversação em casa de Pedro se desdobrava em derredor do mesmo tema.

- È difícil não criticar – comentava Mateus, com lealdade -, porque, a todo instante o homem de mediana educação é compelido a emitir pareceres na atividade comum.

- Sim – concordava André, muito franco -, não é fácil agir com acerto, sem analisar detidamente.
Depois de vários depoimentos, em torno do direito de observar e corrigir, interferiu Jesus sem afetação:

- Inegavelmente, homem algum poderá cumprir o mandato que lhe cabe, no plano divino da vida, sem vigiar no caminho em que se movimenta, sob os princípios da retidão. Todavia, é necessário não inclinar o espírito aos desvarios do sentimento, para não sermos vitimados por nós mesmos.
Seremos julgados pela medida que aplicarmos aos outros. O rigor responde ao rigor, a paciência à paciência, a bondade à bondade...

E, transcorridos alguns instantes, contou:
- Quando Israel vivia sob o governo dos grandes juizes, existiu um magistrado austero e violento em destacada cidade do povo escolhido, que imprimiu o terror e a crueldade em todos os serventuários sob sua orientação. Abusando dos poderes que a lei lhe conferia, criou ordenações tirânicas para a punição das mínimas faltas. Multiplicou infinitamente o número dos soldados, edificou muitos cárceres e inventou variados instrumentos de flagelação.

O povo, asfixiado por estranhas proibições, devia movimentar-se debaixo de severa fiscalização, qual se fora rebanho de bravios animais.
Trabalharia, descansaria e adoraria o Senhor, em horas rigorosamente determinadas pela autoridade, sob pena de sofrer humilhantes castigos, nas prisões, com pesadas multas de toda espécie.

Se bem mandava o juiz, melhor agiam os subordinados, cheios de natural malvadez.
Assim foi que, certa feita, dirigindo-se o magistrado, alta noite, à casa de um filho enfermo, foi aprisionado, sem qualquer consideração, por um grupo de guardas bêbados e inconscientes que o conduziram a escura enxovia que ele mesmo havia inaugurado, semanas antes. Não lhe valeram a apresentação do nome e as honrosas insígnias de que se revestia. Tomado por terrível ladrão, foi manietado, despojado dos bens que trazia e espancado sem piedade, afirmando os sentinelas que assim procediam, obedecendo às instruções do grande juiz, que era ele próprio.

Somente no dia imediato foi desfeito o equivoco, quando o infeliz homem público já havia sofrido a aplicação das penas que a sua autoridade estabelecera para os outros.
O legislador atribulado reconheceu, então, que era perigoso transmitir o poder a subalternos brutalizados e ignorantes, percebendo que a justiça construtiva e santificante é aquela que retifica ajudando e educando, na preparação do Reinado do Amor entre os homens.

Desde a singular ocorrência, a cidade adquiriu outro modo de ser, porque o juiz reformado, embora prosseguisse atento às funções que lhe competiam, ergueu, sobre o tribunal, a beneficio de todos, o coração de pai compreensivo e amoroso.
Lá fora, brilhavam estrelas, retratadas nas águas serenas do grande lago. Depois de longa pausa, o Mestre concluiu:
- Somente aquele que aprendeu intensamente com a vida, estudando e servindo, suando e chorando para sustentar o bem, entre os espinhos da renúncia e as flores do amor, estará habilitado a exercer a justiça, em nome do Pai.


Bibliografia:
O Evangelho Segundo o Espiritismo. Allan Kardec. Tradução de Herculano Pires. Edição 64°. São Paulo, 2007. Editora: Lake.
JESUS NO LAR. Francisco Cândido Xavier. Ditado pelo Espírito: Neio Lúcio. Publicado originalmente em 1950 pela. FEB – Federação Espírita Brasileira.