quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Liberdade almejada por Zorobabel.


Assim diz a lenda no Rito Escocês Antigo e Aceito, que em 70 anos de escravidão do povo judeuZorobabel, um dos escravos à época, obteve do Reide Ciro II, o Grande, sucessor de Nabucodonosor, a permissão de retornar à Jerusalém para reconstruir o Templo.  Nas ruínas do Templo reuniam-se os “adeptos” formando uma Reunião de Conselho.  O chefe desse Conselho contara a Zorobabel sobre as provações do povo e sua vontade de reconstruir o Templo, identificou-se com a causa. Zorobabel deseja de toda a alma e a seu povo, a liberdade. Mas seria somente a liberdade do “ir e vir” necessária para a sublimação da alma?

Liberdade! Palavra tão discutida, tão pronunciada pelo homem em todos os tempos e que, na atualidade, ganha mais força em consequência da própria evolução dos tempos.

Ser livre para quê? Eis uma boa pergunta. Medito na resposta e considero a liberdade, tão importante para o homem quanto o ar que ele respira. Entretanto, cumpre considerar que a liberdade absoluta é algo bastante difícil de ser alcançado. Todos, indiscriminadamente, estamos sujeitos a limitações maiores ou menores em relação à nossa vontade de sermos livres. (1)


Estas limitações, ressalta-se, são de várias ordens. Há aquelas que nos são impostas pelos que têm a missão de nos educar. Há outras que as leis nos apontam, para determinar a existência de um limite entre o que podemos e o que não podemos fazer, em função de não prejudicarmos o nosso semelhante. No entanto, há limitações à nossa liberdade que são impostas por nós próprios. Elas são marcadas pelo nosso passado, pelas experiências vividas, pelo que se aproveitou e pelo que se desperdiçou. Nós mesmos de forma inconsciente, colocamos limitações à nossa ação, visto termos registrado, no âmago da nossa essência espiritual, a real necessidade de nossa caminhada evolutiva. 


Liberdade é um estado do ser que não sofre constrangimento, que age conforme a sua vontade, a sua natureza. Em  termos políticos é a faculdade de fazer o que se queira dentro  dos limites do direito. 

Os atos livres praticados pelo indivíduo podem levá-lo à  ampliação ou à limitação de outros atos livres. Caso  escolha deliberadamente  o vício haverá um tolhimento da  vontade, pois esta  estará submetida à necessidade de supri-lo, impedindo a continuidade  dos atos livres. A dimensão da moral  entra, aqui, como elemento que vai permitir a continuidade dos atos livres, ou seja, a aquisição do estado de liberdade.

O estado de liberdade depende do livre-arbítrio, quer dizer,  da capacidade de escolha entre o certo e o errado.  Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, diz-nos que o  livre-arbítrio existe no estado de Espírito, com a escolha das  provas,  e no estado  corpóreo, com a faculdade de ceder ou resistir aos arrastamentos a que voluntariamente estamos submetidos. Neste sentido, o homem não é fatalmente conduzido ao mal: os crimes que comete não são o resultado de um decreto do destino; será  sempre livre para agir como quiser.

A perfeita liberdade do Espírito  far-se-á pela prática dos preceitos evangélicos. Empenhemo-nos, pois, no estudo e na vivência dos ensinos deixados pelo mestre Jesus.

A liberdade é filha da fraternidade e da igualdade. Fala-se da liberdade legal e não da liberdade natural, que, de direito, é imprescritível para toda criatura humana, desde o selvagem até o civilizado. Os homens que vivam como irmãos, com direitos iguais, animados do sentimento de benevolência recíproca, praticarão entre si a justiça, não procurarão causar danos uns aos outros e nada, por conseguinte, terão que temer uns dos outros. A liberdade nenhum perigo oferecerá, porque ninguém pensará em abusar dela em prejuízo de seus semelhantes. Mas, como poderiam o egoísmo, que tudo quer para si, e o orgulho, que incessantemente quer dominar, dar a mão à liberdade que os destronaria? O egoísmo e o orgulho são, pois, os inimigos da liberdade, como o são da igualdade e da fraternidade.

A liberdade pressupõe confiança mútua. Ora, não pode haver confiança entre pessoas dominadas pelo sentimento exclusivista da personalidade. Não podendo cada uma satisfazer- se a si própria senão à custa de outrem, todas estarão constantemente em guarda umas contra as outras. Sempre receosas de perderem o a que chamam seus direitos, a dominação constitui a condição mesma da existência de todas, pelo que armarão continuamente ciladas à liberdade e a restrição, o quanto puderem.


Seguir-se-á daí que, enquanto os homens não se acharem imbuídos do sentimento de fraternidade, será necessário tê-los em servidão? Dar-se-á sejam inaptas as instituições fundadas sobre os princípios de igualdade e de liberdade? Semelhante opinião fora mais que errônea; seria absurda. Ninguém espera que uma criança se ache com o seu crescimento completo para lhe ensinar a andar. Quem, ao demais, os tem sob tutela? Serão homens de ideias elevadas e generosas, guiados pelo amor do progresso? Serão homens que se aproveitem da submissão dos seus inferiores para lhes desenvolver o senso moral e elevá-los pouco a pouco à condição de homens livres? Não; são, em sua maioria, homens ciosos do seu poder, a cuja ambição e cupidez outros homens servem de instrumentos mais inteligentes do que animais e que, então, em vez de emancipá-los, os conservam, por todo o tempo que for possível, subjugados e na ignorância.


Sente-se, porém, que as bases sociais não estão sólidas; a cada passo o solo treme, por isso que ainda não reinam a liberdade e a igualdade, sob a égide da fraternidade, porque o orgulho e o egoísmo continuam empenhados em fazer se malogrem os esforços dos homens de bem.

Todos vós que sonhais com essa idade de ouro para a Humanidade trabalhai, antes de tudo, na construção da base do edifício, sem pensardes em lhe colocar a cúpula; ponde-lhe nas primeiras fiadas a fraternidade na sua mais pura acepção. Mas, para isso, não basta decretá-la e inscrevê-la numa bandeira; faz-se mister que ela esteja no coração dos homens e não se muda o coração dos homens por meio de ordenações. Do mesmo modo que para fazer que um campo frutifique, é necessário se lhe arranquem os pedrouços e os tocos, aqui também é preciso trabalhar sem descanso por extirpar o vírus do orgulho e do egoísmo, pois que aí se encontra a causa de todo o mal, o obstáculo real ao reinado do bem. Eliminai das leis, das instituições, das religiões, da educação até os últimos vestígios dos tempos de barbárie e de privilégios, bem como todas as causas que alimentam e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, os quais, por assim dizer, bebemos com o leite e aspiramos por todos os poros na atmosfera social. Somente então os homens compreenderão os deveres e os benefícios da fraternidade e também se firmarão por si mesmos, sem abalos, nem perigos, os princípios complementares, os da igualdade e da liberdade.  (2)

Instruir-se é conquistar cada vez mais a liberdade. É necessário conhecer a Lei. "Conhecereis a Verdade e esta vos converterá em homens livres"! Jesus expressou com perfeição, aprender a Lei é libertar-se!

A Liberdade é condição essencial do homem sobre a Terra. É um dom que foi forjado juntamente com o espírito pelas mãos divinas. Imagem e Semelhança refere-se principalmente à esta faceta humana, ser livre. Somos livres enquanto dotados de livre-arbítrio, mas a vida em sociedade nos impõe as limitações necessárias ao abuso, aganância e ao totalitarismo.


A primeira forma de Legislação veio a Terra por meio da mediunidade de Moisés, no momento em que o povo hebreu após quatro séculos de servidão no Egito, ansiou e arriscou-se na jornada em busca da Liberdade. A liberdade é então um marco na nossa história. Foi a sua busca que nos proporcionou a recepção da primeira Revelação de Deus ao mundo. Moisés legislava e o povo lhe obedecia, sustentado pela promessa divina. Deixou o povo judeu no Egito, pequenas propriedade, alguma posse material, alguns animais. E visando um sonho contido em profecias de seu povo, trocaram a estabilidade mesquinha da terra da servidão, pela instabilidade promissora da terra prometida. Trocaram a mediocridade pela oportunidade, arriscaram tudo por uma promessa. Saíram do Egito, como Abraão havia deixado a Caldéia, apenas com uma promessa divina de uma Terra dadivosa. 


Durante essa prolongada e tormentosa travessia, alguns tiveram saudade da servidão e dos velhos ídolos do imediatismo e da idolatria, mas Moisés foi enérgico e proibiu entre eles práticas que recordassem o período em que eram escravos, em que não tinham dignidade, em que não eram homens. Não há preço para a Liberdade. Todos os povos a almejam em todas as épocas da humanidade. Todos os povos submetidos ao imperialismo rebelaram-se e nesse particular, a Epopeia judaica da travessia do Mar Vermelho é incomparável. Erich Fromm refere-se ao Medo à Liberdade, que é o mesmo do pássaro que nasce no cativeiro e não sabe deixar a gaiola se aberta, e se deixá-la fenece. Santo Agostinho revela em suas Confissões que roubava, na infância, as maçãs dos vizinhos, que havia em seu próprio pomar, apenas pelo prazer de pecar. A sublimação de seus instintos levou-o a descobrir o Prazer de Não Pecar. (3)

Essa é a verdadeira Liberdade. Esse é o escopo de nossa vida!

 

Bibliografia :

1 – intercâmbio.  Assunção Silva, Alayde de ; Secron, Lúcia Maria; Luiz Sérgio (espírito). 6° edição, 1988.Ed: gráfica Ipiranga.

2 -"Obras  Póstumas", de Allan Kardec. Primeira parte. FEB.26ª ed. 1993.

3-www.espiritismocristao.blogspot.com.br/2007/05/lei-de-liberdade.html

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