O autêntico maçom deve conferir todos os dias seus sentimentos e ver se eles se encontram na mesma faixa dos preceitos do Livro da Lei. Transformando o ódio em fraternidade, a injúria em caridade. O maçom entendido nestas virtudes, abomina veementemente qualquer ação referente aos costumes considerados bárbaros nos dias atuais, como por exemplo, o duelo.
Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida uma viagem que o há de conduzir a determinado ponto, pouco caso faz das asperezas da jornada e não deixa que seus passos se desviem do caminho reto. Com o olhar constantemente dirigido para o termo a alcançar, nada lhe importa que as urzes e os espinhos ameacem produzir-lhe arranhaduras; umas e outros lhe roçam a epiderme, sem o ferirem, nem impedirem de prosseguir na caminhada.
Quando um maçom que pouco desbastou a pedra bruta, expuser seus dias para se vingar de uma injúria estará recuandodiante das provações da vida, é sempre um crime aos olhos do G.A.D.U; e, se não fosse, iludido como nós, pelos vossos prejuízos, tal coisa seria ridícula e uma suprema loucura aos olhos dos homens. Há crime no homicídio em duelo; a vossa própria legislação o reconhece.
Ninguém tem o direito, em caso algum, de atentar contra a vida de seu semelhante: é um crime aos olhos do Supremo Arquiteto, que vos traçou a linha de conduta que temos de seguir. Nisso, mais do que em qualquer outra circunstância, somos juízes em causa própria. Lembremo-nos de que somente seremos perdoados, conforme perdoarmos; pelo perdão nos acercamos da Divindade, pois a clemência é irmã do poder.
Enquanto na Terra correr uma gota de sangue humano, vertida pela mão dos homens, o verdadeiro reino do Grande Arquiteto ainda se não terá implantado aí, reino de paz e de amor, que há de banir para sempre do vosso planeta a animosidade, a discórdia, a guerra. Então, a palavra duelo somente existirá na vossa linguagem como longínqua e vaga recordação de um passado que se foi. Nenhum outro antagonismo existirá entre os homens, afora a nobre rivalidade do bem.
O duelo é um assassínio e um costume absurdo, digno dos bárbaros, e quando a pessoa sabe que nele sucumbirá, é um suicídio. O chamado ponto de honra, que é invocado nos duelos, significa ao mesmo tempo orgulho e vaidade, dupla chaga da Humanidade.
A guerra é o resultado direto da predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e do transbordamento das paixões. No estado de barbárie, os povos só conhecem o direito da força. À medida que o homem progride, a guerra se torna menos frequente, porque ele procura evitar-lhe as causas. A guerra desaparecerá da face da Terra quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei do Grande Arquiteto do Universo. Nessa época, então, todos os povos serão irmãos.
Muitos acreditam que ser manso e pacífico é estar predisposto a aceitações permanentes das intempéries naturais que a existência possa oferecer ao indivíduo. Acreditam ainda que ser manso e pacífico é ser subserviente a qualquer proposta, sem relutar, reclamar, propor, modificar. Vejamos o exemplo de Jesus: Ele andou como um homem simples em meio a um povo cheio de lágrimas, opulências e maldades.
Em momento algum deixou de ser o espírito altaneiro e virtuoso que é. Assim sendo, ser manso e pacífico tem outros atributos que precisam ser pesquisados. A mansidão, segundo os dicionários, é a brandura de índole, mas também é atributo do gênio.
Um espírito genial não necessita sobrepor-se a nada ou a ninguém para mostrar suas qualidades. Elas são suas marcas, seus aparatos, seu espelho. A serenidade lhes é peculiar, pois sabem dar o passo certo para o local exato. Sabem esperar, sabem propor, sabem praticar seus misteres com tranquilidade porque conscientes de si mesmos.
O manso não é aquele que aceita propostas indecorosas para manter-se vivo perante as modalidades fétidas e passageiras de ações infelizes impetradas por espíritos belicosos que nada produzem de útil para a sociedade. Antes, sugam dela seus legítimos direitos, envolvendo-se em deveres atrozes que lhes cobrarão ações hercúleas num futuro. Muitas vezes em dores lancinantes da culpa, do arrependimento, através torturas físicas e morais difíceis de serem descritas.
O manso entende que o dinamismo próprio para as solturas espirituais demanda tolerância, indulgência e bondade. Sabemos que somente a prática do bem e a consciência reta podem nos garantir os avanços à plenitude espiritual.
Sem mansuetude isto é impossível. Sem mansuetude nossos olhares continuarão travessos; nossas mãos, garras perigosas, nossos pés buscarão trilhas e escarpas ao invés de caminhos. A mansuetude é luz que guia que promove o indivíduo a patamares onde as observações podem ser feitas com maiores profundidades.
Somente na mansuetude é possível buscar nos seres e propostas seus reais valores e credibilidades. Por isto o gênio é manso. O espírito livre vê mais distante, vê as entrelinhas, vê as essências – fundamentos primeiros das coisas e causas, tornando-se diferenciado, respeitado. Sabe de antemão que o orgulho e o egoísmo representam o maior obstáculo ao progresso. E reunidos criam no ser um estado de inconstância e apreensões, medos e inseguranças que o fazem retrógrado, muitas vezes avançado intelectualmente e estirado num lamaçal no campo da moralidade. Isto não é plenitude que promove a mansuetude. São desvarios que promovem guerras internas e externas.
O manso sabe que o entrelaçamento dos valores intelectuais e morais promovem a corrente do bem e avança por ele e, através dele, atinge os cumes dos seus ideais para entendê-los além numa feliz sucessão de probidades espirituais. Aprendeu que a humanidade ainda não atingiu o apogeu da perfeição, mas que ela é perfectível, portanto, ele próprio é um ser perfectível por pertencer à raça humana.
E o ser pacífico, quem seria ele? Um pregador ermitão morando nas alturas do mundo, confortando almas em desalinho que de quando em vez o procura? Seria ainda o mediador das contendas a promover as bondades em meias partes iguais? O ser pacífico é maior e mais aparelhado dinamizador do progresso real da humanidade. Passividade não representa compassividade para com o erro ou o atraso moral e intelectual de quem quer que seja e em qual civilização for. Há um provérbio chinês que diz: “Em plena paz deves agir com intensa atividade e, em intensa atividade, deves agir com intensa paz”. Um é perfeito corolário do outro. Um complementa o outro.
O pacífico é, pois aquele que vislumbra o belo e a perfeição, a face do bem em todas as moedas que encontra pelo caminho. Sabe das temporalidades dos eventos. Sabe das distorções promovidas pelos incautos, sabe das propostas promissoras ao surgimento de novas alianças com a luz. Somente o pacífico pode ver a luz. Somente o pacífico pode agir com justiça, solidariedade e amor pelas pessoas e circunstâncias.
Por isso que Jesus disse: “Felizes são os mansos e os pacíficos porque eles herdarão a Terra”. Ver em Mateus Cap. 5 Vv. 4 e 9. E que Terra eles herdarão? Juntemos aqui outra palavra do Mestre Jesus: “Meu Reino ainda não é deste mundo”. Ver João Cap. 18 Vv. 33 a 37.
Gradativamente a Terra vem sendo saneada pelas propostas da mansuetude e da paz. Cada gênio que aqui nasce ou renasce estabelece novas diretrizes, novos caminhos, criando pilares para que o projeto do Senhor desta humanidade possa, enfim, estabelecer-se nos sítios inferiores do planeta Seu reinado é de eficácia e luz, liberdade para todos e responsabilidade aliada. Assim, os murros, socos, pontapés, lixos orais ou grafados, atividades bélicas, corrupções, negociatas, infidelidades, drogas lícitas ou não, mentiras e um sem conta de propostas e comportamentos, filhos eficientes do orgulho e do egoísmo, estão com seus dias contados neste mundo.
As religiões devem aliar-se à ciência e à filosofia para melhor encaminhar a Deus os Seus filhos em trânsito pelas vias da evolução. Não podem estar impregnadas de doutos, supostos condutores de almas, necessitando antes melhor conduzir-se. Os céus não são conquistados por gritos e tampouco são comprados por dinheiro terreno.
A moeda que circula aqui, somente a este mundo pertence. A moeda dos céus é o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo. Não se compra pedacinhos de felicidades. Felicidades são conquistadas com trabalho e orientação eficaz. Com persistência e avanços. Não há atropelos nas conquistas espirituais.
E não se jogarão como dados num tabuleiro de aventuras. O sorriso sincero e leal será a marca da beleza pessoal. Também eles estarão nas grandes mesas dos negócios, não para enriquecerem-se de uma moeda de valor apenas nominal. E sim de valores reais que adquirirão pelo trabalho perfeito e em constante busca da perfeição.
Pode-se concluir dizendo que ser manso e pacífico é ser inteligente, culto, perspicaz, futurista, empreendedor e representante em si do bem e do belo. Entender assim a vida é ser de fato manso e pacífico, atuante eficaz a favor da vida em suas múltiplas dimensões e devidamente aparelhado para herdar o mundo em seu futuro glorioso.
Fonte:
O Evangelho segundo o Espiritismo. Allan Kardec. Herculano Pires. (tradutor). Editora: LAKE.
O que é ser manso e pacífico? Artigo de GUARACI DE LIMA SILVEIRA. Site: oimortal.com.br
Bíblia sagrada. Antigo e novo testamento. (tradução de João Ferreira de Almeida). Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
O Livro dos Espíritos. Allan Kardec. Herculano Pires (tradutor). Editora: LAKE.
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