sábado, 28 de outubro de 2017

A acácia e o Mestre Divino.


...e entrelaçando uma coroa
de acácia, puseram(-na) na
cabeça dele e um caniço na
(mão) direita e, ajoelhando-se
diante dele zombavam,
dizendo: Salve, rei dos judeus!
Mat. 27:29

O ramo de acácia é um dos mais lembrados símbolos maçônicos e também com numerosos significados. Mencionada no Livro da Lei, este texto foca o momento onde a árvore acácia é relatada em o Novo Testamento, no momento da flagelação do Mestre dos mestres. 

Ordenada a flagelação, foi o réu conduzido a um pátio interior, ficando entregue à soldadesca rude e grosseira. Tratava-se de soldados romanos, que alimentavam desprezo pelos judeus, para eles raça inferior de bárbaros; e quando podiam por as mãos numa vítima, davam vazão a seus baixos instintos de sadismo.

Com Jesus, deviam estar sendo flagelados os dois ladrões que com Ele foram crucificados, pois, como vimos, era um prelúdio inevitável. Os evangelistas não falam no assunto porque a flagelação era em local reservado, não sendo assistida pelo público.
Não vemos esclarecido se a lei mosaica foi obedecida: esta ordenava que a flagelação tivesse o máximo de quarenta chicotadas nas costas nuas do condenado. Por segurança, o Talmud ordenava que só fossem dadas trinta e nove, por segurança de alguma falha na contagem. Mas, a lei romana não estabelecia limite de golpes. De qualquer forma, jamais batiam de modo a enfraquecer demais o réu, a fim de que pudesse ainda reservar energias para a crucificação.

Após a flagelação, logo que cansados, passaram às zombarias. Ele se dissera rei dos judeus. Pois como tal o tratariam. Apanharam uma de suas capas vermelhas e puseram-Lha sobre os ombros; outro teve a ideia de apanhar um caniço para colocá-lo na mão direita, à guisa de cetro; um terceiro correu para fora colheu um ramo de acácia, entrelaçando-o à maneira de coroa, aplicando-a à cabeça: estava Jesus ridiculamente paramentado como um rei de circo.

Desfilaram, então, diante Dele, genufletindo e saudando-O como costumavam ouvir que se fazia-o imperador: Ave, Caesar Auguste.!, e eles diziam: .Salve, o rei dos judeus.! Depois, alguém teve a ideia de tomar-lhe o caniço das mãos e com ele bater-lhe na cabeça, fazendo que os acúleos penetrassem no couro cabeludo e na fronte. Outros ainda, com mais baixos instintos, cuspiam-Lhe no rosto. Cena deprimente, reveladora do sadismo de gente bruta.

A coroa é dita, no original, de ákanta, que é o nome comum da Mimosa Nilótica. Sobre essa planta, escreveu Teofrasto (História Plantarum): .O ákanto (ou acácia do Egito) tem esse nome porque é todo coberto de espinhos (akantôdês) exceto no tronco; as próprias folhas são espinhosas.

A madeira é leve e durável, tanto que se presta para a confecção de móveis. Em hebraico é denominada sittáh (plural sittim), em latim, setim. Foi com a acácia que Moisés recebeu ordem de construir o Tabernáculo (Êx.25:10 e 37:1); os varais (Êx. 25:13); a mesa da proposição (Êx. 25:23) e seus varais (Êx. 25:28); as diversas peças do Tabernáculo (Êx. 26:15) e suas travessas (Êx. 26:26) o altar dos holocaustos (Êx.27:1) e seus varais (Êx. 27:6).

A tradução comum, coroa de espinhos, é expressão vaga. De fato, ákanta em grego significa também espinho, mas é o nome de uma árvore. Dizer: coroa de espinhos. dá a impressão de que a coroa tivesse sido construída apenas com espinhos, quando na realidade, foi tecida com os ramos de uma árvore espinhosa. E essa árvore, abundantíssima na região, era precisamente a acácia, que, por ser muito espinhosa (akantôdês) era denominada popularmente de ákanta.

Mesmo nos momentos mais cruciais e dolorosos da Vida do mestre dos Mestres, sempre existe o simbolismo com suas lições proveitosas para toda a humanidade. Vimos que Jesus não negara, antes até, indiretamente confirmara que era “rei”, embora seu “reino não fosse deste mundo”; tampouco, por conseguinte, seria um reino particular, com autoridade apenas sobre determinada nação, mesmo que se tratasse do “povo escolhido”.

Todavia, não tendo negado o adjunto “dos judeus”, até mesmo escrito sobre o madeiro da cruz, deixou-nos o Mestre a porta aberta para interpretar que, naquela romagem terrena. Ele estabelecera que “de fato e de direito” sua autoridade se baseava nas Escolas Iniciáticas de Judaísmo (cfr. “a salvação vem dos judeus”, João 4:22). A universalização viria posteriormente, depois que os “empregados da vinha” tivessem expulsado os enviados do Rei e tivessem assassinado seu filho (cfr. Mat. 21:33-43), quando então, a vinda seria entregue a outros agricultores.

Então, “de fato e de direito”, rei era Ele, porque atingira esse grau e, dentro de horas, subiria a Seu trono em forma de cruz, de cima da qual poderia estender Seu olhar percuciente por sobre toda a humanidade. E como as autoridades e os “grandes”, cheios de empáfia, O não queriam aceitar, os humildes O reconheceriam e os desequilibrados, por causa da própria ignorância, embora com sarcasmo, Lhe atribuíram o título. E assim, de vez que Sua autoridade inconteste não foi reconhecida, com seriedade pelos doutos, eis que a ralé social o fez a título de zombaria.

E simbolicamente, como “varão das dores que experimentara as fraquezas” (Is. 53:3), Ele se constituiu Rei dos sofredores e dos mendigos, isto é, de todos os que, tendo ingressado na Senda, renunciaram a seu eu vaidoso, tomaram sua cruz e O seguiram, nada possuindo, embora cercados de tudo, esquecidos de si mesmos para sacrificialmente ajudarem aos outros.

O manto escarlate ou púrpura, característica dos soldados, ou seja, dos homens que empreendem a guerra sem tréguas a seu eu personalístico, e o símbolo do plano atrasado da humanidade terrestre, que envolveu o puríssimo Espírito de Jesus com sua carne “opositora” (satânica).
Em Sua mão, o caniço (cfr. Mat. 12:20 não quebrara o caniço rachado”, também em Isaías 42:3), símbolo da autoridade. E na cabeça a coroa de acácia, símbolo da soberania.

Já vimos, no primeiro comentário, a parte científica relativa à acácia, ou “mimosa nilótica”. Resta-nos ver o simbolismo que essa planta representa desde a remota antiguidade, e que ainda hoje conserva vivíssimo na Ordem Maçônica.
São quatro os principais significados atribuídos à acácia:

1.º - incorruptibilidade, em vista de sua madeira não ser atacada por nenhuma espécie de insetos e, além disso, de não apodrecer com a umidade, nem mesmo quando diuturnamente mergulhada na água. Alguns autores dizem que, por isso, foram encerrados os membros de Osíris num caixão de acácia, lançado, depois, nas águas do Nilo.

2.º - imortalidade, deduzida de sua durabilidade excepcional, muito além de outras madeiras comuns. Segundo Tiele (Histoire des Antiques Religions”, Paris, 1882), em certas procissões, quatro sacerdotes egípcios levavam uma arca, donde saía um ramo de acácia, com a inscrição: “Osíris ressuscitou”. Com efeito, também no episódio de Hiram, como no de Osíris, como no de Jesus, a acácia exprime que a morte não é a destruição total, mas simplesmente uma renovação e uma metamorfose. Daí seu terceiro significado:

3.º - iniciação, pois a imortalidade é o apanágio dos adeptos e iniciados. Assim. no Antigo Testamento, eram feitos de acácia a Arca da Aliança, o Altar dos Holocaustos, a Mesa dos Pães da Proposição, etc. Talvez baseado nisso, F. Chapuis (“L 'Acacia”, in “bulletin des Ateliers Supérieurs”, 1398, após citar o “Recueil Précieux de la Maçonnerie Adonhiramique”, Paris, 1787), citado por Jules Boucher (“La Symbolique Maçonnique”, Dervy, Paris, 1953, pág. 271) tenha afirmado que também a cruz de Jesus era de acácia.
Mas a razão e o bom senso repelem essa hipótese: nenhuma cruz especial foi confeccionada para receber Jesus que, como réu comum, foi pendurado nas cruzes já existentes. Ora, a madeira, utilizada era o pinho. De acácia, porém, era com certeza - pelo testemunho dos evangelistas- a coroa. Quando os iniciados se levantavam (“ressurgiam”) do “caixão” ou “barco” de Osíris, feito de acácia, proferiam a conhecida frase: “Estive no túmulo, triunfei da morte, ingressei na vida permanente”, que era a vida espiritual do “'homem novo”.

4.º - inocência, por três motivos:
a) porque, em virtude dos espinhos, representa aqueles que se não deixam tocar por mãos impuras, repelindo os ataques dos inimigos mal intencionados;
b) porque, sendo da tocada; família “mimosa” (como a nossa “sensitiva”), fecha as folhas ao ser tocada;

c) e finalmente porque seu nome específico, em grego (“akakía) exprime a ausência de maldade ou malícia (“a+kakía”), apresentando, essa palavra, em grego, o duplo sentido de “inocência” (cfr. Demostenes, 59,81; Aristóteles, Rhetorica, 1389 b 9; Job (LXX), 2:3) e de acácia (cfr. Dioscórides,“De Materia Medica”, 1, 101 e Aretaeus, CD, 2  (Chroniôn Nousôn Therapeutikón).


Veja também : http://espiritamacom.blogspot.com.br/2013/07/o-ramo-de-acacia-amarela-e-o-ramo-de.html


Bibliografia: Sabedoria do Evangelho,  8º volume. - Carlos Torres Pastorino.

domingo, 8 de outubro de 2017

Profano, um jargão maçônico.



O Profano: É definido, segundo o dicionário de Maçonaria, um termo usado pelos Antigos-Mistérios para designar os estranhos e que na Maçonaria se qualificam os não iniciados em seus mistérios.

Falar dos mistérios sem estar apto seria profanação, e os profanos não podem penetrar no templo iniciático do Conhecimento. Isso faz-nos lembrar outra faceta deste ensinamento. O Mestre dos mestres utiliza-se de uma fraseologia tecnicamente especializada na arquitetura (que veremos surgir, mais explícita em Mat. 21:42, Marc.12:10 e Luc. 20:17).

Ensina-nos o Cristo que será "edificada" por Ele, sobre a "Pedra", a ekklêsía, isto é, o "Templo". Ora, sabemos que, desde a mais remota antiguidade, os templos possuem forma arquitetônica especial. Na fachada aparecem duas figuras geométricas: um triângulo superposto a um quadrilátero, para ensinamento dos profanos.

Profanos é formado de PRO = "diante de", e FANUM = "templo". O termo originou-se do costume da Grécia antiga, em que as cerimônias religiosas exotéricas eram todas realizadas para o grande público, na praça que havia sempre na frente dos templos, diante das fachadas. Os profanos, então, eram aqueles que estavam "diante dos templos", e tinham que aprender certas verdades básicas.

Ao aprendê-las, eram então admitidos a penetrar no templo, iniciando sua jornada de espiritualização, e aprendendo conhecimentos esotéricos. Daí serem chamados INICIADOS, isto é, já tinham começado o caminho. Depois de permanecerem o tempo indispensável nesse curso, eram então submetidos a exames e provas. Se fossem achados aptos no aprendizado tornavam-se ADEPTOS (isto é: AD + APTUS). A esses é que se refere o Mestre divino, Jesus, naquela frase citada por Lucas "todo aquele que é diplomado é como seu mestre" (Luc. 6:40;)

Os Adeptos eram os diplomados, em virtude de seu conhecimento telúrico e prático da espiritualidade. O ensino revelado pela fachada é que o HOMEM é constituído, enquanto crucificado na carne, por uma tríade superior, a individualidade eterna, - que deve dominar e dirigir o quaternário (personalidade do indivíduo para onde passa sua consciência, enquanto se encontra “crucificada” no corpo físico). É chamado “quaternário” porque se subdivide em quatro partes:
1 - o Intelecto (também denominado mente concreta, porque age no cérebro físico e através dele);
2 - o astral, plano em que vibram os sentimentos e emoções;
3 - o duplo etérico, em que vibram as sensações e instintos;
4 - o corpo físico ou denso, que é a materialização de nossos pensamentos, isto é, dos pensamentos e desejos do Espírito, acumulando em si e exteriorizando na Terra, todos os efeitos produzidos pelas ações passadas do próprio espirito.

Quando o profano chega a compreender isso e a viver na prática esse ensinamento, já está pronto para iniciar sua jornada, penetrando no templo. No entanto, o interior dos templos (os construídos por arquitetos que conheciam esses segredos). o interior difere totalmente da fachada: tem suas naves em arco romano, cujo ponto chave é a "pedra angular", o Cristo (cfr. Mat. 21:42,. Marc. 12:10; Luc. 20:17,. Ef. 2:20; 1 Pe. 2:7; e no Antigo: Job. 38:6; Salmo 118:22: Isaías, 28:16, Jer. 51:26 e Zac. 4:7).

Sabemos todos que o ângulo da pedra angular é que estabelece a "medida áurea" do arco, e portanto de toda a construção do templo. Assim, os que já entram no templo ("quem tem olhos de ver, que veja"!) podem perceber o prosseguimento do ensino: o Cristo Divino é a base da medida de nossa individualidade, e só partindo Dele, com Ele, por Ele e Nele é que podemos edificar o "nosso" Templo eterno.

Infelizmente não cabem aqui as provas matemáticas desses cálculos iniciáticos, já conhecidos por Pitágoras seis séculos antes de Cristo. Mas não queremos finalizar sem uma anotação: na Idade média, justamente na época e no ambiente em que floresciam em maior número os místicos, o arco romano cedeu lugar à ogiva gótica, o "arco sextavado", que indica mais claramente a subida evolutiva.

Aqui, também, os cálculos matemáticos nos elucidariam muito. Sem esquecer que, ao lado dos templos, se erguia a torre ...a Torre edificada sobre a Pedra é inabalável em seus alicerces, quando estivermos sintonizados com Jesus, o Mestre divino.

Quantas maravilhas nos ensinam os Evangelhos do livro da Lei em sua simplicidade! ...



Bibliografia: Sabedoria do Evangelho,  4º volume. - Carlos Torres Pastorino. 

Editado pelo autor do Blog.