terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Um maçom cego pelo poder efêmero.


                                     A Parábola dos Cegos. Pintura de Pieter Bruegel, o Velho



“Porventura pode um cego guiar outro cego? não cairão ambos no barranco?”  (Lucas, VI, 39.)

“Sabes que os fariseus ouvindo o que disseste, ficaram escandalizados? Mas ele respondeu: Toda a planta que meu Pai Celestial não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os, são cegos guias de cegos. Se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco.” (Mateus, XV, 12:14.)

Há cegos do corpo e cegos do espírito, e se horrível é a cegueira do corpo, mil vezes pior é a do espírito. Entretanto, bem difícil, ou quase impossível, é encontrar-se um cego a guiar outro cego, ao passo que, no que se refere às coisas do Espírito, vemos, por toda parte, cegos que guiam cegos!

Qualquer homem, por haver frequentado um seminário e ter envergado uma sotaina, já se julga com capacidade bastante para ser guia de cegos!

Nunca se viu um cego formado no Instituto de Cegos sair à rua guiando cegos, mas veem-se, todos os dias, cegos mil vezes mais cegos que os primeiros, saídos do “Instituto da Cegueira”, guiando a multidão de cegos que encontra o “barranco” do túmulo e nele cai juntamente com seus guias!

Mas passemos à comparação: triste coisa é ver-se neste mundo um cego caminhando só, ou um cego a guiar outro cego, se tal fosse possível.
Que acontece ao cego que caminha sem guia? Tropeça aqui, tomba ali, cai acolá; esbarra, fere-se, até que alma caridosa o tome pela mão e o conduza a casa!
A mesma sorte está reservada aos cegos que guiam cegos; tanto uns, como outros, passam pelos mesmos tormentos.

Imagine-se agora um “cego de espírito” caminhando sozinho: um materialista, cego-voluntário, ao chegar ao Mundo Espiritual! Como poderá ele caminhar? Este homem não procurou estudar o Mundo Espiritual, nem sequer acreditava na Outra Vida: ignora a significação das palavras imortalidade, eternidade, Deus!

Que acontecerá a este cego ao passar as barreiras do túmulo? Que acontecerá a este Espírito ao ver-se num mundo completamente estranho?
Imaginemos, agora, um cego de espírito conduzindo uma multidão de cegos da mesma natureza, como acontece aos guias das religiões tarifadas! Imaginemos esses cegos sucedendo-se no mundo espiritual. Que será de todos eles? São cegos, o mundo aonde entraram lhes é desconhecido!

Como se arranjarão esses cegos, na sua entrada para um mundo cuja existência negaram, absortos que estavam nas miragens de um Céu de beatífica contemplação, de um Purgatório de brasas e de um Inferno de chamas!

Decididamente, ninguém pode saber sem aprender, ninguém pode aprender sem estudar, assim como ninguém pode ver, sendo cego.
A parábola de Jesus cabe a todos aqueles que fazem da fé um bloco de carvão e se submetem ao “magister dixit”(1), sem análise, sem estudo, sem exame.
Um cego não pode guiar outro cego; um ignorante do mundo espiritual não pode guiar as almas que para aí se encaminham.

Esta parábola, que faz alusão ao sacerdócio hebreu, pode referir-se hoje ao sacerdócio romano e protestante, assim como aos materialistas, modernos saduceus que tudo negam.

(1)  Magister dixit (O mestre o disse) é uma expressão latina que pode ser utilizada quando se procura construir um argumento referindo-se a uma autoridade tida como inquestionável.


Aperfeiçoando a liderança na maçonaria.





Na maçonaria um venerável mestre nem sempre é um líder. Não é por meio de palavras melífluas destituídas de sinceridade que vai alcançar o status de guia na Loja maçônica. Há ainda aqueles sequazes que, não possuindo lucidez plena, distribuem aplausos para este representante, talvez em busca de atenção ou por intenções lamentáveis.

Quando analisamos o significado e a origem da palavra Lucidez nos deparamos com Lux, do latim, Luz. Lúcido é aquele que se manifesta com a luz ou brilho, que deixa passar a luz.
O âmbito filosófico agrega e compreende a Lucidez como inteligência, consciência e capacidade de assimilar e transmitir as ideias com clareza. 

A função de um líder na maçonaria é alcançar uma maior eficiência no cumprimento dos objetivos institucionais maçônicos e reduzir a evasão de membros da Loja. 

Como líder por excelência, o Mestre dos Mestres Jesus soube erigir com maestria, na sua inolvidável peregrinação, uma tessitura de confiança no coração dos seus apóstolos e seguidores – baseada, evidentemente, no seu discurso transformador e na sinceridade dos seus propósitos voltados à mudança da mentalidade do homem, assim como acordando-o para outras realidades transcendentes –, passo fundamental para os desafios espirituais que estavam desde há muito delineados para a humanidade terrena. Conforme sustentam pesquisadores renomados, trata-se, portanto, de característica vital de liderança.

Dito isso, a capacidade de engajar pessoas através de uma visão envolvente e arrebatadora surge como uma das mais importantes habilidades de um líder. Traduzir o componente visionário por meio de ensinamentos desmistificadores e transcendentais, bem como influenciar o etos dos liderados na busca de tal ideal, é uma tarefa que só pessoas muito especiais podem realizar.

Não obstante o fato de que considerável conteúdo do tema da liderança esteja associado às organizações modernas e aos seus condutores, cremos que, se alargarmos o pensamento, poderemos ver as suas proposições e aplicabilidade consentâneas ao assunto em pauta. Desse modo, cabe mencionar que muitos pensadores da atualidade trabalham intensamente na pesquisa da liderança e suas múltiplas vertentes, inclusive a espiritual. Nesta última, por sinal, há pesquisadores que sugerem que a liderança espiritual envolve a habilidade de inspirar outros a se comportar de acordo com os mais altos valores morais e éticos na forma como convivem com os outros. Tais valores abarcariam, assim, a empatia, a compaixão, a humildade e o amor e, como tal, seu portador seria movido por um senso inato do que é certo, independente das consequências.

Outro prolífico e conceituado pesquisador dessa área, o Dr. Louis W. Fry, costuma definir tal capacidade como “[...] compreendendo os valores, atitudes e comportamentos que são necessários para intrinsecamente motivar o próprio self e outros de modo que eles tenham um senso de sobrevivência espiritual através da vocação e associação”. 

Bibliografia:


 FRY, L.W. Toward a theory of spiritual leadership. The Leadership Quarterly, v. 14, n. 6, p. 694-695, 2003.

FRY, L.W. Toward a theory of spiritual leadership. The Leadership Quarterly, v. 14, n. 6, p. 695, 2003; MILLER, W.C. Spiritually-based leadership. In: ZSOLNAI, L (Ed.). Spirituality and Ethics in Management. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 2004, p. 169; LENNICK, D.; KIEL, F. Moral intelligence: enhancing business performance and leadership success.Wharton School Publishing: Upper Saddle River, 2005, p. 87.

GUILLORY, W.A. The living organization: spirituality in the workplace. 2nd Edition. Salt Lake City, UT: Innovations International, 2001, p. 186-187.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

O profano que finge ser venerável mestre.


                    Criador da imagem: Ben Davis. Informação extraída do IPTC Photo Metadata

É triste presenciar maçons que viram a verdadeira Luz apenas com os olhos físicos. Não enxergaram com os olhos da alma e muito menos a assimilaram no imo. Alguns chegam a agir fora da ética como a compra de votos e outras coisas mais para garantir um cargo de venerável mestre. Não é maçom e muitos menos venerável quem age dessa forma. A consciência desse irmão nunca mais estará em paz. Pobre pedreiro livre. Tão ignorante das verdades, por isso esse comportamento que deturpa a Sublime Ordem.

Diante deste fato, pergunta-se: que tipo de subsídio o Espiritismo nos fornece para a compreensão dessa situação? Em O Evangelho Segundo o Espiritismo há alusão aos escândalos. Primeiramente, Jesus nos fala dos escândalos e que estes deverão vir, mas “Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos; mas, ai do homem por quem o escândalo venha”. O escândalo significa mau exemplo, princípios falsos e abuso do poder. Ele deve ser sempre considerado do lado positivo, ou seja, como um estímulo para que o ser humano combata em si mesmo o orgulho, o egoísmo e a vaidade.

Lembremo-nos também da frase: “Ninguém há que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso, ou a ponha debaixo da cama; põe-na sobre o candeeiro, a fim de que os que entrem vejam a luz; - pois nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente”. (S. LUCAS, cap. VIII, vv. 16 e 17.). A verdade, assim, não pode ficar oculta para sempre. Deduz-se que aquele que não soube fazer esforços para se pautar corretamente no bem, sofrerá as consequências de suas ações.  
Somente quando o poder da inteligência for banhado pelo poder moral e ético é que conseguiremos atingir um mundo mais justo e mais de acordo com o bem comum.


Bibliografia:


O Evangelho Segundo o Espiritismo. Allan Kardec. FEB.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O Dever de um maçom.

O Dever de um maçom. 




O dever é o conjunto das prescrições da lei moral, a regra pela qual o homem deve conduzir-se nas relações com seus semelhantes e com o Universo inteiro. Figura nobre e santa, o dever paira acima da Humanidade, inspira os grandes sacrifícios, os puros devotamentos, os grandes entusiasmos. Risonho para uns, temível para outros, inflexível sempre, ergue-se perante nós, apontando a escadaria do progresso, cujos degraus se perdem em alturas incomensuráveis.

O dever não é idêntico para todos; varia segundo nossa condição e saber. Quanto mais nos elevamos tanto mais a nossos olhos ele adquire grandeza, majestade, extensão. Seu culto é sempre agradável ao virtuoso e a submissão às suas leis é fértil em alegrias íntimas, inigualáveis.

Por mais obscura que seja a condição do homem, por mais humilde que pareça a sua sorte, o dever domina-lhe e enobrece a vida, esclarece a razão, fortifica a alma. Ele nos traz essa calma interior, essa serenidade de espírito, mais preciosa que todos os bens da Terra e que podemos experimentar no próprio seio das provações e dos reveses. Não depende de nós desviar os acontecimentos, porque o nosso destino deve seguir os seus trâmites rigorosos; mas sempre podemos, mesmo através de tempestades, firmar essa paz de consciência, esse contentamento íntimo que o cumprimento do dever acarreta.

Todos os Maçons Plenos  (Espíritos superiores) têm profundamente enraizado em si o sentimento do dever; é sem esforços que seguem a própria rota. É por uma tendência natural, resultante dos progressos adquiridos, que se afastam das coisas vis e orientam os impulsos do ser para o bem. O dever torna-se, então, uma obrigação de todos os momentos, a condição imprescindível da existência, um poder ao qual nos sentimos indissoluvelmente ligados para a vida e para a morte.

O dever oferece múltiplas formas: há o dever para conosco, que consiste em nos respeitarmos, em nos governarmos com sabedoria, em não querermos e não realizarmos senão o que for útil, digno e belo; há o dever profissional, que exige o cumprimento consciencioso das obrigações de nossos encargos; há o dever social, que nos convida a amar os homens, a trabalhar por eles, a servir fielmente ao nosso país e à Humanidade; há o dever para com Deus... O dever não tem limites. Sempre podemos melhorar. É, aliás, na imolação de si própria que a criatura encontra o mais seguro meio de se engrandecer e de se depurar.

A honestidade é a essência do homem moral; é desgraçado aquele que daí se afastar. O homem honesto faz o bem pelo bem, sem procurar aprovação nem recompensa. Desconhecendo o ódio e a vingança, esquece as ofensas e perdoa aos seus inimigos. É benévolo para com todos, protetor para com os humildes. Em cada ser humano vê um irmão, seja qual for seu país, seja qual for sua fé. Tolerante, ele sabe respeitar as crenças sinceras, desculpa as faltas dos outros, sabe realçar-lhes as qualidades; jamais é maledicente. Usa com moderação dos bens que a vida lhe concede, consagra-os ao melhoramento social e, quando na pobreza, de ninguém tem inveja ou ciúme.

A honestidade perante o mundo nem sempre é honestidade de acordo com as leis divinas. A opinião pública, é certo, tem seu valor; torna mais suave a prática do bem, mas não devemos considerá-la infalível. Sem dúvida que o sábio não a desdenha; mas, quando é injusta ou insuficiente, ele também sabe caminhar avante e calcula o seu dever por uma medida mais exata. O mérito e a virtude são algumas vezes desconhecidos na Terra; as apreciações da sociedade quase sempre são influenciadas por paixões e interesses materiais. Antes de tudo, o homem honesto busca o julgamento e o aplauso da sua própria consciência.

Aquele que soube compreender todo o alcance moral da filosofia maçônica, e inclusive, a espírita tem do dever uma concepção ainda mais elevada. Está ciente de que a responsabilidade é correlativa ao saber, que a posse dos segredos transcendentais impõe-lhe a obrigação de trabalhar com energia para o seu próprio melhoramento e para o de seus irmãos.

As vozes dos Espíritos têm feito vibrar ecos em si, têm despertado forças que jazem entorpecidas na maior parte dos homens e que o impelem poderosamente na sua marcha ascensional. Torna-se o ludíbrio dos maus, porque um nobre ideal o anima e atormenta ao mesmo tempo; mas, ainda assim, ele não o trocaria por todos os tesouros de um império. A prática da caridade então lhe é fácil; ensina-o a desenvolver sua sensibilidade e suas qualidades afetivas. Compassivo e bom, ele sente todos os males da Humanidade, quer derramar por seus companheiros de infortúnio as esperanças que o sustêm, desejaria enxugar todas as lágrimas, curar todas as feridas, extinguir todas as dores.

A prática constante do dever leva-nos ao aperfeiçoamento. Para apressá-lo, convém que estudemos primeiramente a nós mesmos, com atenção, e submetamos os nossos atos a um exame escrupuloso, porque ninguém pode remediar o mal sem antes o conhecer.
Podemos estudar-nos em outros homens. Se algum vício, algum defeito terrível em outrem nos impressiona, procuremos ver com cuidado se existe em nós germe idêntico; e, se o descobrirmos, empenhemo-nos pelo arrancar.

Consideremos nossa alma pela sua realidade, isto é, como obra admirável, porém imperfeita e que, por isso mesmo, temos o dever de embelezar e ornar incessantemente. Esse sentimento da nossa imperfeição tornar-nos-á mais modestos, afastará de nós a presunção, a tola vaidade.
Submetamo-nos a uma disciplina rigorosa. Assim como ao arbusto se dá a forma e a direção convenientes, assim também devemos regular as tendências do nosso ser moral. O hábito do bem facilita a sua prática. Só os primeiros esforços são penosos; por isso, e antes de tudo, aprendamos a dominar-nos. As primeiras impressões são fugitivas e volúveis; a vontade é o fundo sólido da alma. Saibamos governar a nossa vontade, assenhorear-nos dessas impressões, e jamais nos deixemos dominar por elas.

O homem não deve isolar-se de seus semelhantes. Convém, entretanto, escolher suas relações, seus amigos, empenhar-se por viver num meio honesto e puro, onde só reinem boas influências.
Evitemos as conversas frívolas, os assuntos ociosos, que conduzem à maledicência. Digamos sempre a verdade, quaisquer possam ser os resultados. Retemperemo-nos freqüentemente no estudo e no recolhimento, porque assim a alma encontra novas forças e novas luzes. Possamos dizer, ao fim de cada dia: Fiz hoje obra útil, alcancei alguma vantagem sobre mim mesmo, assisti, consolei desgraçados, esclareci meus irmãos, trabalhei por torná-los melhores; tenho cumprido o meu dever!


Texto extraído e editado para o blog, do livro: Depois da Morte, Léon Denis.