sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A PAZ DO MUNDO EM NÓS

 

“As guerras nascem no espírito dos Homens e é nele, permanentemente, que devem ser erguidas as defesas da paz”. (Frederico Mayor) Os povos antigos, muitos se expressando em Latim, preocupados com a paz, proclamavam: “Si vis pacem, para bellum” = Se queres a paz, prepara a guerra. “A paz é a reunião de todos os fragmentos em que está dividido o vosso pobre ser... Buscai a paz. Despertai para a existência em vós de um centro de equilíbrio, em que tudo se única, se rearmoniza, se reconcilia”.

(Mahatma Gandhi).

Nós, seres humanos, ainda nos debatemos nos conflitos da dualidade: a guerra não é o antônimo da paz, ainda que os sentimentos que nutrem uma sejam incompatíveis com a outra. Viajantes no tempo e no espaço infinitos, iniciamos o trajeto a caminho da luz exercitando e expandindo a própria consciência em estágios sucessivos da evolução.

A escala do progresso é sublime e infinita, e a busca da solidariedade e do amor deve imperar em todos os departamentos da natureza visível e invisível.

Nessa viagem, ao atingirmos o estágio da razão, sentimos a necessidade de nos vermos como realmente somos: um microuniverso edificado ao longo dos milênios, herdeiros de nós mesmos, cocriadores em grau menor, interagindo com o macrouniverso. Chamados ao autoconhecimento, deparamo-nos, nessa busca interior, com estrelas cujos brilhos, mais ou menos intensos, refletem as nossas virtudes e com buracos negros cujas sombras refletem o nosso orgulho e egoísmo.

A educação, desde a chegada do ser a este planeta, precisa propiciar essa viagem tutelada pela família e pelos educadores formais; tutela está baseada, principalmente, no exemplo. Hoje, vemos a preocupação em transmitir ao educando conteúdos para o desenvolvimento do intelecto, ensejando na sociedade o crescimento da instrução, a valorização do ter e do saber, sem a necessária correspondência do ser e da sabedoria, dificultando o desenvolvimento moral, causando o desequilíbrio das duas asas que nos fazem alçar voo em direção às nossas aspirações. Necessário se faz garantir um encontro com os conteúdos arquivados ao longo da caminhada, para que sejam analisados e ressignificados dentro do contexto sociocultural e espiritual em que ora se vê o espírito mergulhado. “CHEGOU A HORA DA GENTE CONSTRUIR A PAZ, NINGUÉM SUPORTA MAIS O DESAMOR.”

Despertar o ser para despir-se do homem velho vestindo a indumentária do homem novo, saindo da condição de objeto social em que ainda se mantém para o lugar que ele deve, de fato, ocupar: o de sujeito social, transformando-se e, em consequência, transformando a sociedade em que vive, sendo capaz de analisar as questões que envolvem essa sociedade e nelas interferir não pela roupagem com que elas se apresentam e, sim, pelo fundo que lhes dá origem.

Outrora, usávamos pedras lançadas pelas catapultas para invadir o território do inimigo, flechas para tirar a vida daqueles que resistiam, íamos ao coliseu para os espetáculos promovidos pela luta entre gladiadores; hoje, sofisticamos apenas a forma, permanece o fundo: a bomba lançada dos aviões, projéteis saídos das armas modernas com incrível letalidade, modernos espetáculos de lutas nos ringues em espaços sofisticados e continuamos alimentando a nossa belicosidade, trazendo para a intimidade do lar toda a brutalidade e a violência exibidas pelas telas dos ultramodernos televisores.

“ Não te esqueças, contudo, de que a paz do mundo pode ser muitas vezes, o sono enfermiço da alma”, diz Emmanuel no livro “Vinha de Luz”. De fato, a paz que o mundo cultiva decorre das imperfeições humanas, nas quais o egoísmo centraliza nossas atenções em busca de um sossego criminoso que ignora o sofrimento dos infelizes e se incomoda com a presença dos simples e injustiçados. A paz dos poderosos se sustenta no acúmulo das riquezas ilusórias ou no poder político, enquanto a paz dos infortunados se sustenta na certeza de que Deus lhes concederá milagres imerecidos, a serem obtidos mediante bajulação à divindade. “Há ímpios, caluniadores, criminosos e indiferentes que desfrutam a paz do mundo. Sentem-se triunfantes, venturosos e dominadores no século.

 

A ignorância endinheirada, a vaidade bem vestida e a preguiça inteligente sempre dirão que seguem muito bem”. Emmanuel, em suas obras, pela psicografia de Francisco C. Xavier, deixa para o espírito, já desperto e interessado, rico material de reflexão para a construção da Paz.

 

No livro Fonte Viva, ele nos deixa o seguinte registro: “O convite do Mestre, para que os discípulos procurem lugar à parte, a m de repousarem a mente e o coração na prece, é cada vez mais oportuno. [...] Ó meu amigo, se adotaste efetivamente o aprendizado com o Divino Mestre, retira-te a um lugar à parte e cultiva os interesses de tua alma. É possível que não encontres o jardim exterior que facilite a meditação, nem algum pedaço de natureza física onde repouses do cansaço material, todavia, penetra o santuário, dentro de ti mesmo. Há muitos sentimentos que te animam há séculos, imitando, em teu íntimo, o fluxo e o refluxo da multidão. Passam apressados de teu coração ao cérebro e voltam do cérebro ao coração, sempre os mesmos, incapacitados de acesso à luz espiritual. São os princípios fantasistas de paz e justiça, de amor e felicidade que o plano da carne te impôs. Em certas circunstâncias da experiência transitória, podem ser úteis, entretanto, não vivas exclusivamente ao lado deles. Exerceriam sobre ti o cativeiro infernal. Refugia-te no templo à parte, dentro de tua alma, porque somente aí encontrarás as verdadeiras noções da paz e da justiça, do amor e da felicidade reais.”

A Terra está em transição para um novo patamar na escala dos mundos, mas ainda vivemos o mundo de provas e expiações, que paga um preço muito alto pela ausência de paz. Em toda a história da vida humana neste planeta, mais de dois milhões de anos, jamais vivemos uma só hora de paz. O século passado foi o que mais matou seres humanos, pela insânia das duas grandes guerras mundiais, e ainda há muitos focos de guerras ativos sobre o planeta. Apesar dos elevados níveis de progresso tecnológico, bilhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza e milhões, ainda, morrem de fome anualmente. Observamos também que a ação humana, pela motivação do ganho desenfreado, destrói florestas, extingue espécies animais, faz secar os rios e lagos. Além disso, a violência se expande, são assaltos, assassinatos, sequestros, verdadeira guerra urbana com explosão de caixas eletrônicos e toques de recolher em muitas comunidades. Tudo isso mostra três grandes campos abertos ao trabalho, para que se desenvolva a paz na sociedade: PAZ SOCIAL, PAZ AMBIENTAL e PAZ INTERIOR.

Observa-se, contudo, que a ignorância gera a busca por soluções ilusórias, impedindo que o indivíduo se ajuste ao seu tempo e ao seu contexto social de forma ativa e transformadora. Cada um procura se proteger com grades, cercas elétricas e seguros, na tentativa de resguardar aquilo que pensa possuir. Não há uma consciência muito clara de que os problemas sociais resultam das ações individuais. A corrupção que ceifa a verba pública e gera transtornos de grandes proporções é a mesma que leva o indivíduo a querer as pequenas “vantagens” no cotidiano. Transformar-se intimamente, tornar-se um agente da paz, acreditando que tudo o que se faz tem consequência boa ou má é fundamental.

A Maçonaria nos ensina isso. A educação bem conduzida pelos preceitos maçônicos, ao mostrar ao indivíduo sua realidade espiritual e suas potencialidades divinas, pode estimulá-lo a realizar as mudanças profundas e efetivas em sua personalidade, auxiliando-o a compreender que é possível encontrar em si mesmo as fontes do bem- estar, pelo desenvolvimento pleno de seus potenciais.

Percebemos, pois, que é pela omissão dos bons que os maus prosperam. É preciso mudar essa realidade. Sabemos que é dever dos governos, por meio de suas instituições, evitar conflitos e combater a violência, porém a construção da paz compete a todos nós: educadores, artistas, lideranças de uma forma geral. Nossa Ordem Maçônica está inserida em comunidades que demandam nossa ação transformadora. Precisamos nos unir em torno desse ideal - isso é unificação.

Texto original editado para o site

Referência:

Revista A Senda, Espírito Santo, Gráfica JEP, maio-junho 2017.


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