sábado, 22 de junho de 2013

O Espiritismo e a franco-maçonaria. parte 3

Terceiro texto da Revista Espírita, ditado por outro maçom, já pertencente à Maçonaria Celeste. Destaque para o texto marcado em negrito, um desvio da rotina maçônica onde alguns poucos obreiros que, estacionaram na própria evolução, ainda insistem em permanecer nas sombras.  

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Fiquei muito encantado em misturar-me às discussões deste centro tão profundamente espiritualista, e retorno atraído por Guttemberg, como fora outro dia por Jacquart. A maior parte da dissertação do grande tipógrafo tratou a questão de um ponto de vista de ofício, e não viu principalmente nessa bela invenção senão o lado prático, material, utilitário. Ampliemos o debate, e tomemos a questão de mais alto. 

Seria um erro crer que a imprensa veio substituir a arquitetura, porque esta permanecerá para continuar o seu papel historiográfico, por meio de monumentos característicos, tocados com a marca do espírito de cada século, de cada geração, de cada revolução humanitária. Não; digamo-lo claramente, a imprensa não veio nada derrubar; veio para completar, e por sua obra especial, grande e emancipadora; ela chegou em sua hora, como todas as descobertas que eclodem providencialmente neste mundo. Contemporâneo do monge que inventou a pólvora, e que, por aí, transtornou a velha arte das batalhas, Guttemberg trouxe uma nova alavanca para a expansão das idéias. 

Não o esqueçamos: a imprensa não podia ter a sua legítima razão de ser senão para a emancipação das massas e o desenvolvimento intelectual dos indivíduos. Sem essa necessidade a satisfazer, sem esse alimento, esse maná espiritual a distribuir, a imprensa teria se debatido por muito tempo ainda no vazio, e não teria sido considerada senão como o sonho de um louco, ou como uma utopia sem importância. Não foi assim que foram tratados os primeiros inventores, dizemos melhor, aqueles que, os primeiros, descobriram e constataram as propriedades do vapor? Fazei nascer Guttemberg nas ilhas Andaman, e a imprensa aborta fatalmente. 

Portanto, a ideia: eis a alavanca primordial que é preciso considerar. Sem a ideia, sem o trabalho fecundo dos pensadores, dos filósofos, dos ideólogos, e mesmo dos monges sonhadores da Idade Média, a imprensa teria permanecido letra morta. Guttemberg pode, pois, queimar mais de uma vela em honra dos dialéticos da escola que fizeram germinar a ideia, e desbastar as inteligências. A ideia fervorosa, que reveste uma forma plástica no cérebro humano, é e será sempre o maior motor das descobertas e das invenções. Criar uma necessidade nova no meio das sociedades modernas é abrir um novo caminho à ideia perpetuamente inovadora; é impelir o homem inteligente à procura do que satisfará essa nova necessidade da Humanidade; é porque, por toda a parte onde a ideia for soberana, por toda parte onde ela for acolhida com respeito, por toda a parte, enfim, onde os pensadores forem honrados, se estará seguro de progredir para Deus. 

A franco-maçonaria, contra a qual tanto se gritou, contra a qual a Igreja romana não teve bastante anátemas, e que por isso não sobreviveu menos, a franco-maçonaria abriu seus templos a dois batentes ao culto emancipador da idéia. Em seu seio, todas as questões mais graves foram tratadas, e, antes que o Espiritismo fizesse a sua aparição, os veneráveis e os grandes mestres sabiam e professavam que a alma é imortal, e que os mundos visíveis e invisíveis se comunicam entre si. É lá, nesses santuários onde os profanos eram admitidos, que os Swedenborg, os Pascal, os Saint-Martin, obtiveram fulminantes resultados; foi lá onde a grande Sofia, essa inspiradora etérea, veio ensinar a esses primogênitos da Humanidade os dogmas emancipadores onde hauriu seus princípios fecundos e generosos; foi lá onde., bem antes de vossos médiuns contemporâneos, dos precursores de vossa mediunidade, grandes desconhecidos, tinham evocado e feito aparecer os sábios da antiguidade e os primeiros séculos da era; foi lá... Mas detenho-me; o quadro restrito de vossas sessões, o tempo que se escoa, não me permitem estender-me, como o queria, sobre este interessante assunto. A ele voltaremos mais tarde. Tudo o que direi é que o Espiritismo encontrará, no seio das lojas maçônicas, uma falange numerosa e compacta de crentes, não de crentes efêmeros, mas sérios, resolutos e inquebrantáveis em sua fé.

O Espiritismo realiza todas as aspirações generosas e caridosas da francomaçonaria; ele sanciona as crenças que ela professa, dando provas irrecusáveis da imortalidade da alma; conduz a Humanidade ao objetivo que ela se propôs: a união, a paz, a fraternidade universal, pela fé em Deus e no futuro. É que os Espíritas sinceros de todas as nações, de todos os cultos e de todas as classes, não se olham como irmãos? Não há entre eles uma verdadeira franco-maçonaria, com essa diferença de que em lugar de ser secreto, ela se pratica à luz do dia? Homens esclarecidos como aqueles que ela possui, que as suas luzes colocam acima dos preconceitos de grupos e da castas, não podem ver com indiferença o movimento que essa nova doutrina, essencialmente emancipadora, produz no mundo. Repelir um elemento tão poderoso de progresso moral seria abjurar seus princípios e se colocar ao nível dos homens retrógrados. Não, disso estou seguro, 
não se deixarão transbordar, porque vejo nisso que, sob a nossa influência, vão tomar em mão essa grave questão. 

O Espiritismo é uma corrente de idéias irresistível, que deve ganhar todo o mundo: isso não é senão uma questão de tempo; ora, seria desconhecer o caráter da instituição maçônica, crer que ela consentirá em se aniquilar, e a desempenhar um papel negativo no meio do movimento que eleva a Humanidade para a frente; sobretudo, crer que ela lançará o apagador sobre a chama, como se tivesse medo da luz. É bem entendido que não falo aqui senão da alta franco-maçonaria, e não dessas lojas feitas pela ilusão, onde se reúnem antes para comer e beber, ou para rir das perplexidades que inocentes provas causam aos neófitos, senão para discutir as questões de moral e de filosofia. 

Seria bem preciso, para que a franco-maçonaria pudesse continuar a sua missão sem entraves, que tivesse de distância em distância, de raio em raio, de meridiano em meridiano, templos fora do templo, lugares profanos fora dos lugares sagrados, falsos tabernáculos fora do arco. É nesses centros que os adeptos do Espiritismo têm inutilmente tentado se fazerem ouvir. Imperativa, a franco-maçonaria ensinou o dogma precursor do vosso, e professou em segredo o que proclamais bem alto. Eu retornarei, disse, sobre estas questões, se, no entanto, os grandes Espíritos que presidem os vossos trabalhos o permitirem. À espera, eu vo-lo afirmo, a Doutrina Espírita pode perfeitamente se unir às das grandes lojas do Oriente Médio, Agora, glória ao grande Arquiteto! 

Um antigo franco-maçom, 
VAUCANSON (médium, Sr. d’Ambel)

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