A Parábola dos Cegos. Pintura de Pieter Bruegel, o Velho
“Porventura pode um cego
guiar outro cego? não cairão ambos no barranco?” (Lucas, VI, 39.)
“Sabes que os fariseus ouvindo o que disseste, ficaram escandalizados? Mas ele respondeu: Toda a planta que meu Pai Celestial não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os, são cegos guias de cegos. Se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco.” (Mateus, XV, 12:14.)
Há cegos do corpo e cegos do
espírito, e se horrível é a cegueira do corpo, mil vezes pior é a do espírito.
Entretanto, bem difícil, ou quase impossível, é encontrar-se um cego a guiar
outro cego, ao passo que, no que se refere às coisas do Espírito, vemos, por
toda parte, cegos que guiam cegos!
Qualquer homem, por haver
frequentado um seminário e ter envergado uma sotaina, já se julga com
capacidade bastante para ser guia de cegos!
Nunca se viu um cego formado
no Instituto de Cegos sair à rua guiando cegos, mas veem-se, todos os dias,
cegos mil vezes mais cegos que os primeiros, saídos do “Instituto da Cegueira”,
guiando a multidão de cegos que encontra o “barranco” do túmulo e nele cai juntamente
com seus guias!
Mas passemos à comparação:
triste coisa é ver-se neste mundo um cego caminhando só, ou um cego a guiar
outro cego, se tal fosse possível.
Que acontece ao cego que
caminha sem guia? Tropeça aqui, tomba ali, cai acolá; esbarra, fere-se, até que
alma caridosa o tome pela mão e o conduza a casa!
A mesma sorte está reservada
aos cegos que guiam cegos; tanto uns, como outros, passam pelos mesmos
tormentos.
Imagine-se agora um “cego de
espírito” caminhando sozinho: um materialista, cego-voluntário, ao chegar ao
Mundo Espiritual! Como poderá ele caminhar? Este homem não procurou estudar o
Mundo Espiritual, nem sequer acreditava na Outra Vida: ignora a significação
das palavras imortalidade, eternidade, Deus!
Que acontecerá a este cego
ao passar as barreiras do túmulo? Que acontecerá a este Espírito ao ver-se num
mundo completamente estranho?
Imaginemos, agora, um cego
de espírito conduzindo uma multidão de cegos da mesma natureza, como acontece
aos guias das religiões tarifadas! Imaginemos esses cegos sucedendo-se no mundo
espiritual. Que será de todos eles? São cegos, o mundo aonde entraram lhes é
desconhecido!
Como se arranjarão esses
cegos, na sua entrada para um mundo cuja existência negaram, absortos que
estavam nas miragens de um Céu de beatífica contemplação, de um Purgatório de
brasas e de um Inferno de chamas!
Decididamente, ninguém pode
saber sem aprender, ninguém pode aprender sem estudar, assim como ninguém pode
ver, sendo cego.
A parábola de Jesus cabe a
todos aqueles que fazem da fé um bloco de carvão e se submetem ao “magister
dixit”(1), sem análise, sem estudo, sem exame.
Um cego não pode guiar outro
cego; um ignorante do mundo espiritual não pode guiar as almas que para aí se
encaminham.
Esta parábola, que faz
alusão ao sacerdócio hebreu, pode referir-se hoje ao sacerdócio romano e
protestante, assim como aos materialistas, modernos saduceus que tudo negam.
(1) Magister
dixit (O mestre o disse) é uma expressão latina que pode ser utilizada quando
se procura construir um argumento referindo-se a uma autoridade tida como
inquestionável.