Há irmãos que preocupam-se mais em galgar os graus maçônicos e esquecem que o mais importante é galgarem os degraus da Escada de Jacó, que simbolicamente representa para a maçonaria o caminho
certo para o irmão seguir. Só conseguirão o intento se subirem com fé e praticar a
caridade onde a mão esquerda não saiba o que fez a direita. E como sabemos,
que há irmãos de diferentes graus evolutivos neste mundo, é compreensível que muitos
se encontrem ainda em degraus ainda baixos da escada.
Os Espíritos pertencem a diferentes ordens, conforme o grau de perfeição a que
tenham alcançado: Espíritos puros, que atingiram a perfeição máxima; bons
Espíritos, nos quais o desejo do bem é o que predomina; Espíritos imperfeitos,
caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas paixões inferiores.
No livro Gênesis, na Bíblia, capítulo 28, há uma passagem famosa que envolve a
figura de Jacó, um dos patriarcas do povo judeu.
Certa feita, em viagem, chegando num local desconhecido, à noite, deitou-se
para descansar.
Adormecendo, sonhou que a partir dali se erguia uma escada que se alongava ao
céu. Anjos subiam e desciam pelos degraus sem fim.
Ao lado estava Jeová, o deus bíblico, que lhe concedeu, e à sua descendência, a
terra onde repousava. E renovou a promessa de que o povo judeu haveria de se
estender por toda a Terra, como o pó do chão.
A concessão não deu muito certo.
Os judeus, na maior parte de sua história, permaneceram sob domínio
estrangeiro. Pior: a partir do ano 70 da Era Cristã, sob o comando do general
Tito, as forças romanas arrasaram Jerusalém. Os descendentes de Jacó foram
dispersados pelo Mundo.
Não eram triunfantes conquistadores, como vaticinara Jeová.Apenas egressos de uma nação que perdera seu território.
Bastante sugestiva, nesta passagem, é a escada de Jacó a estender-se ao
infinito.
Simboliza a jornada do Espírito rumo à perfeição.
À medida que desenvolvemos nossas potencialidades criadoras e aprimoramos
nossos sentimentos, galgamos degraus, aproximando-nos cada vez mais do Céu, a
exprimir-se na plena realização como filhos de Deus, na geografia da
consciência.
Os anjos que sobem e descem a escada simbolizam os Espíritos superiores, que
amparam e ajudam seus irmãos em evolução, já que a solidariedade é sua
característica mais expressiva.
Por isso costuma-se dizer que a felicidade do Céu é socorrer a infelicidade da
Terra.
Em O Livro dos Espíritos, na questão 97, Kardec pergunta ao mentor espiritual
se há uma quantidade determinada de ordens ou graus de perfeição dos Espíritos.
O mentor responde que esse número é ilimitado.
É a mesma idéia da escada que se estende ao infinito. Impossível contar os
degraus, por onde subimos rumo à perfeição.
Uma única diferença nos distingue – estamos encarnados.
Também estamos num determinado degrau da imensa escada que nos conduzirá aos paramos celestes.
Haverá entre nós Espíritos, da Primeira Ordem, puros, perfeitos?
Houve apenas um:
Jesus.
Espíritos da Segunda Ordem, que se
orientam exclusivamente pelo desejo de fazer o bem, têm transitado em número
razoável pelas paragens terrestres.
São os grandes idealistas, que, não obstante suas limitações, trabalham em
favor do progresso humano. Ainda que em posições de subalternidade, destacam-se
pelo comportamento, empenhados em cuidar do próximo.
Muitos nem precisariam reencarnar. Deixam os patamares mais altos em que se
encontram para estimular à ascensão os irmãos que se demoram em degraus mais
baixos.
Perto da base situamo-nos todos nós,
pobres humanos ainda orientados pelo egoísmo.
Sonhamos altos vôos de espiritualidade, mas temos os pés chumbados no chão.
Admiramos a virtude, mas não conseguimos vencer o vício.
Exaltamos a palavra mansa, mas freqüentemente caímos na expressão agressiva.
Como diz Paulo, queremos o bem, mas nos envolvemos com o mal.
Nossa evolução primária evidencia-se no trato com as pessoas que se comprometem
com o crime.
Se lemos no jornal que alguém estuprou
uma criança, logo pensamos que a pena de morte seria pouco para esse “monstro”,
que antes deveria ser submetido às piores torturas, numa clara alusão ao olho
por olho da anacrônica legislação mosaica que Jesus revogou há dois mil anos. Será
que um Espírito da Segunda Ordem pensaria assim? Ou enxergaria nesse criminoso
um doente necessitado de tratamento, como está no ensino evangélico?
O nosso anseio de justiça cheira a vingança.
Se alguém nos faz um desaforo, logo “soltamos os cachorros”, para “colocar o
imbecil em seu devido lugar”.
Os que, por um prodígio de disciplina, silenciam, não fazem melhor,
consumindo-se em rancor.
Moralmente, a escada de Jacó situa-se
em nossa própria consciência.
Para galgar seus degraus até o Céu da inalterável serenidade que sustenta a
alegria de viver, mister aprimorar nossos sentimentos, superar nossa
agressividade própria do comportamento humano.
É algo como está numa interessante historia
relatada por Daniel Goleman, em seu livro Inteligência Emocional:
Um guerreiro samurai certa vez desafiou um mestre Zen a explicar o conceito de
céu e inferno. Mas o monge respondeu-lhe com desprezo:
- Não passas de um rústico... não vou desperdiçar o meu tempo com gente da tua
laia!
Atacado na própria honra, o samurai teve um acesso de fúria e, sacando a espada
da bainha, berrou:
- Eu poderia te matar por tua impertinência.
- Isso – respondeu calmamente o monge – é o inferno.
Espantado por reconhecer como verdadeiro o que o mestre dizia acerca da cólera
que o dominava, o samurai acalmou-se, embainhou a espada e fez uma mesura,
agradecendo ao monge a revelação.
- E isso – disse o monge – é o céu.
Bibliografia:
Texto extraído e editado do livro de Richard Simonetti, “Espiritismo, Uma Nova Era”. Editora: FEB